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Confiança estatística
UM VELHO CHISTE anglo-saxão dá conta da existência
de três gêneros de mendacidade: mentiras, mentiras
deslavadas e... estatísticas. Com
efeito, a prudência manda desconfiar de toda divulgação de dados, sobretudo oficiais. A escolha
de premissas ou de quais informações publicar pode alterar
muito a aparência do que deveria
ser um retrato fiel da realidade.
Há, no entanto, outro tipo de
falsidade estatística, e não menos grave. Trata-se daquela originada da incompetência, ainda
que sem má-fé, como mostram
revisões recentes de dados sobre
educação e segurança pública.
O primeiro caso a vir à tona foi
um erro crasso na Prova Brasil. O
Instituto Nacional de Pesquisas
Educacionais (Inep, ligado ao
MEC) revisou dados compilados
pela Fundação Cesgranrio e com
isso corrigiu a posição da rede
municipal de São Paulo no ranking nacional, que passou da 21ª
posição em português para a 12ª.
As suspeitas iniciais de manipulação política parecem afastadas. Afinal, saíram também prejudicadas administrações a cargo do PT. O MEC, porém, precisa
cobrar mais acuidade das instituições coletoras de dados que se
tornaram decisivos na gestão da
educação. E, ainda, dar mais publicidade aos erros detectados (a
falha na Prova Brasil de início foi
comunicada só às prefeituras,
não ao público).
Agora são os registros de crimes no Estado de São Paulo de
2004 a 2006 que exigem um
pente fino. Tome-se o caso de
roubos a bancos: dados discrepantes forçaram reavaliação que
revelou o total de 1.053 ocorrências no período, em vez de 487.
Não é só a confiança do público
nas estatísticas que se deteriora
com tais episódios mas a própria
capacidade gerencial do Estado.
Corrigir erros é louvável e imprescindível; identificar a fonte
do erro para impedir que volte a
ocorrer é ainda melhor.
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