São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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Confiança estatística

UM VELHO CHISTE anglo-saxão dá conta da existência de três gêneros de mendacidade: mentiras, mentiras deslavadas e... estatísticas. Com efeito, a prudência manda desconfiar de toda divulgação de dados, sobretudo oficiais. A escolha de premissas ou de quais informações publicar pode alterar muito a aparência do que deveria ser um retrato fiel da realidade.
Há, no entanto, outro tipo de falsidade estatística, e não menos grave. Trata-se daquela originada da incompetência, ainda que sem má-fé, como mostram revisões recentes de dados sobre educação e segurança pública.
O primeiro caso a vir à tona foi um erro crasso na Prova Brasil. O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep, ligado ao MEC) revisou dados compilados pela Fundação Cesgranrio e com isso corrigiu a posição da rede municipal de São Paulo no ranking nacional, que passou da 21ª posição em português para a 12ª.
As suspeitas iniciais de manipulação política parecem afastadas. Afinal, saíram também prejudicadas administrações a cargo do PT. O MEC, porém, precisa cobrar mais acuidade das instituições coletoras de dados que se tornaram decisivos na gestão da educação. E, ainda, dar mais publicidade aos erros detectados (a falha na Prova Brasil de início foi comunicada só às prefeituras, não ao público).
Agora são os registros de crimes no Estado de São Paulo de 2004 a 2006 que exigem um pente fino. Tome-se o caso de roubos a bancos: dados discrepantes forçaram reavaliação que revelou o total de 1.053 ocorrências no período, em vez de 487.
Não é só a confiança do público nas estatísticas que se deteriora com tais episódios mas a própria capacidade gerencial do Estado. Corrigir erros é louvável e imprescindível; identificar a fonte do erro para impedir que volte a ocorrer é ainda melhor.


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