São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Com medo de ser feliz

SÃO PAULO - Pegou até no futebol a insuportavelmente medíocre idéia, tão cara ao governo FHC, da "utopia do possível".
É a única explicação para o fato de não serem escalados juntos cinco jogadores de talento extraordinário (Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Denílson e Juninho), capazes, uns mais, outros menos, de desequilibrar uma partida.
Os "utópicos do possível" dirão que é preciso proteger a defesa. Ora, do jeito que jogou a defesa do Brasil (tanto ontem como em Copas anteriores), não há proteção que resolva. O que resolve é qualidade, não quantidade (seja de defensores, seja de protetores da defesa). Há como resolver o problema da qualidade da defesa? Não. Então vamos ao ataque.
Seja você gerente de banco, diretor de faculdade, empresário, torneiro mecânico ou jardineiro, não haveria de querer no seu time todos os craques disponíveis no mercado? O Brasil tem cinco jogadores que ninguém mais tem, nem a Argentina, a melhor seleção até agora.
Em vez de usá-los, fica a torcida brasileira, pela voz de seu símbolo-mor, o locutor Galvão Bueno, preocupando-se com os Sukurs e Basturks, que não passam de jogadores tão medíocres (no sentido de medianos) como a tal "utopia do possível".
A Turquia simplesmente sumiu do campo a partir do momento em que entrou Denílson. Não teria sumido o tempo inteiro se ele estivesse em campo desde o início com os outros quatro (em vez de no lugar de)?
Parece que o Brasil, no futebol como na vida, está com medo de ser feliz. Parece conformado com a mediocridade de achar bom um desempenho econômico pífio, como o do primeiro trimestre, só porque não foi tão ruim quanto alguns especialistas imaginavam.
Equivale, no futebol, a festejar até vitória com gol de pênalti inexistente em cima da Turquia -com toda a enorme tradição "copeira" do futebol turco.


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