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CLÓVIS ROSSI
Com medo de ser feliz
SÃO PAULO - Pegou até no futebol a insuportavelmente medíocre idéia,
tão cara ao governo FHC, da "utopia
do possível".
É a única explicação para o fato de
não serem escalados juntos cinco jogadores de talento extraordinário
(Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Denílson e Juninho), capazes,
uns mais, outros menos, de desequilibrar uma partida.
Os "utópicos do possível" dirão que
é preciso proteger a defesa. Ora, do
jeito que jogou a defesa do Brasil
(tanto ontem como em Copas anteriores), não há proteção que resolva.
O que resolve é qualidade, não quantidade (seja de defensores, seja de
protetores da defesa). Há como resolver o problema da qualidade da defesa? Não. Então vamos ao ataque.
Seja você gerente de banco, diretor
de faculdade, empresário, torneiro
mecânico ou jardineiro, não haveria
de querer no seu time todos os craques disponíveis no mercado? O Brasil tem cinco jogadores que ninguém
mais tem, nem a Argentina, a melhor
seleção até agora.
Em vez de usá-los, fica a torcida
brasileira, pela voz de seu símbolo-mor, o locutor Galvão Bueno, preocupando-se com os Sukurs e Basturks,
que não passam de jogadores tão medíocres (no sentido de medianos) como a tal "utopia do possível".
A Turquia simplesmente sumiu do
campo a partir do momento em que
entrou Denílson. Não teria sumido o
tempo inteiro se ele estivesse em campo desde o início com os outros quatro (em vez de no lugar de)?
Parece que o Brasil, no futebol como na vida, está com medo de ser feliz. Parece conformado com a mediocridade de achar bom um desempenho econômico pífio, como o do primeiro trimestre, só porque não foi tão
ruim quanto alguns especialistas
imaginavam.
Equivale, no futebol, a festejar até
vitória com gol de pênalti inexistente
em cima da Turquia -com toda a
enorme tradição "copeira" do futebol
turco.
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