São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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VALDO CRUZ

O passado condena

BRASÍLIA - Dia de estréia do Brasil na Copa do Mundo. Ideal para baixar medida polêmica. Afinal, a repercussão é fraca, já que o assunto do momento é futebol.
Pois bem, o Brasil acabava de ganhar da Turquia, e o governo anunciava em Brasília a intervenção no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ.
Com a alegação de que a entidade não cumpriu legislação que manda mudar seu estatuto, o governo destituiu todos os diretores da Previ e nomeou um novo dirigente.
Com isso, voltou a controlar o maior fundo de pensão do país, com patrimônio de R$ 38 bilhões. A entidade foi um instrumento político nas mãos do governo FHC para definir destinos de privatizações.
Até 1997, o Palácio do Planalto dava as cartas no fundo. Depois, mudaram-se as regras, e a direção passou a ser compartilhada entre os diretores eleitos pelos funcionários e os nomeados pelo Banco do Brasil.
Pode até ser que o governo tenha suas razões legais para fazer a intervenção. Mas fica um cheiro podre de coisa armada no ar neste ano eleitoral, em que campanhas precisam de recursos e candidatos querem ficar longe de acusações.
Recentemente, como relatou Fernando Rodrigues neste mesmo espaço, FHC recebeu no Palácio da Alvorada o banqueiro Daniel Dantas. Ele enfrentava problemas no seu relacionamento com a Previ. Os dois são sócios em vários negócios.
Naquela conversa, o banqueiro teria recebido a promessa de que uma pessoa de confiança do governo colocaria "ordem" na Previ.
Não custa lembrar que Dantas era apontado como fonte de notícias desagradáveis ao tucanato sobre privatização, notícias que estavam tirando o sono do comando da campanha de José Serra à Presidência.
Tudo, como dirão os tucanos, não passa de uma tese conspiratória. Mas a forma como o tucanato se utilizou dos fundos de pensão autoriza a levantar suspeitas. É aquela história: teu passado te condena.


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