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VALDO CRUZ
O passado condena
BRASÍLIA - Dia de estréia do Brasil na Copa do Mundo. Ideal para baixar medida polêmica. Afinal, a repercussão é fraca, já que o assunto do
momento é futebol.
Pois bem, o Brasil acabava de ganhar da Turquia, e o governo anunciava em Brasília a intervenção no
fundo de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil, a Previ.
Com a alegação de que a entidade
não cumpriu legislação que manda
mudar seu estatuto, o governo destituiu todos os diretores da Previ e nomeou um novo dirigente.
Com isso, voltou a controlar o
maior fundo de pensão do país, com
patrimônio de R$ 38 bilhões. A entidade foi um instrumento político nas
mãos do governo FHC para definir
destinos de privatizações.
Até 1997, o Palácio do Planalto dava as cartas no fundo. Depois, mudaram-se as regras, e a direção passou a
ser compartilhada entre os diretores
eleitos pelos funcionários e os nomeados pelo Banco do Brasil.
Pode até ser que o governo tenha
suas razões legais para fazer a intervenção. Mas fica um cheiro podre de
coisa armada no ar neste ano eleitoral, em que campanhas precisam de
recursos e candidatos querem ficar
longe de acusações.
Recentemente, como relatou Fernando Rodrigues neste mesmo espaço, FHC recebeu no Palácio da Alvorada o banqueiro Daniel Dantas. Ele
enfrentava problemas no seu relacionamento com a Previ. Os dois são sócios em vários negócios.
Naquela conversa, o banqueiro teria recebido a promessa de que uma
pessoa de confiança do governo colocaria "ordem" na Previ.
Não custa lembrar que Dantas era
apontado como fonte de notícias desagradáveis ao tucanato sobre privatização, notícias que estavam tirando
o sono do comando da campanha de
José Serra à Presidência.
Tudo, como dirão os tucanos, não
passa de uma tese conspiratória. Mas
a forma como o tucanato se utilizou
dos fundos de pensão autoriza a levantar suspeitas. É aquela história:
teu passado te condena.
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