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MÍDIA AMERICANA
É preocupante a decisão da
FCC (Comissão Federal de Comunicações) dos Estados Unidos de
relaxar as restrições que existiam no
país para a propriedade cruzada de
veículos de comunicação.
Numa votação com características
partidárias, os três membros republicanos da FCC derrotaram os dois
democratas e aprovaram uma forte
desregulamentação do setor. Agora,
uma única empresa poderá ter, numa cidade grande, até três emissoras
de TV, oito estações de rádio, um sistema de TV a cabo, um provedor de
internet e um jornal impresso. Também foi ampliado de 35% para 45% o
limite de audiência nacional que
uma companhia pode atingir através
de suas várias estações de TV.
Como tem ocorrido com frequência nos EUA, a decisão está cercada
de suspeitas de favorecimento. Nos
últimos oito anos, segundo informa
a ONG Center for Public Integrity,
membros da FCC foram contemplados com US$ 2,8 milhões em 2.500
viagens à expensa de empresas beneficiadas pela desregulamentação. O
presidente da FCC é Michael Powell,
filho de Colin Powell, secretário de
Estado e cacique republicano.
A decisão abre as portas para fusões e aquisições. A tendência é a de
que o mercado se concentre ainda
mais. Os riscos são conhecidos.
Grandes redes tendem a padronizar
sua programação e noticiário. Isso
lhes permite reduzir custos e, assim,
derrotar a concorrência, gerando
mais concentração. Como corolário,
haverá menos espaço para vozes dissonantes, num movimento contrário
ao da ampla liberdade de expressão,
uma das características mais marcantes da democracia americana.
A cobertura da guerra no Iraque,
que foi, nos EUA, fortemente marcada pelo nacionalismo acrítico, é uma
prévia do que pode estar por vir.
Numa era de globalização e de interdependência dos mercados, a decisão da FCC pode ter efeitos indesejáveis também no Brasil, onde não
há limites para a concentração. Corre-se o risco de o exemplo americano
servir para desestimular ainda mais
iniciativas de regulamentação.
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