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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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MÍDIA AMERICANA

É preocupante a decisão da FCC (Comissão Federal de Comunicações) dos Estados Unidos de relaxar as restrições que existiam no país para a propriedade cruzada de veículos de comunicação.
Numa votação com características partidárias, os três membros republicanos da FCC derrotaram os dois democratas e aprovaram uma forte desregulamentação do setor. Agora, uma única empresa poderá ter, numa cidade grande, até três emissoras de TV, oito estações de rádio, um sistema de TV a cabo, um provedor de internet e um jornal impresso. Também foi ampliado de 35% para 45% o limite de audiência nacional que uma companhia pode atingir através de suas várias estações de TV.
Como tem ocorrido com frequência nos EUA, a decisão está cercada de suspeitas de favorecimento. Nos últimos oito anos, segundo informa a ONG Center for Public Integrity, membros da FCC foram contemplados com US$ 2,8 milhões em 2.500 viagens à expensa de empresas beneficiadas pela desregulamentação. O presidente da FCC é Michael Powell, filho de Colin Powell, secretário de Estado e cacique republicano.
A decisão abre as portas para fusões e aquisições. A tendência é a de que o mercado se concentre ainda mais. Os riscos são conhecidos. Grandes redes tendem a padronizar sua programação e noticiário. Isso lhes permite reduzir custos e, assim, derrotar a concorrência, gerando mais concentração. Como corolário, haverá menos espaço para vozes dissonantes, num movimento contrário ao da ampla liberdade de expressão, uma das características mais marcantes da democracia americana.
A cobertura da guerra no Iraque, que foi, nos EUA, fortemente marcada pelo nacionalismo acrítico, é uma prévia do que pode estar por vir.
Numa era de globalização e de interdependência dos mercados, a decisão da FCC pode ter efeitos indesejáveis também no Brasil, onde não há limites para a concentração. Corre-se o risco de o exemplo americano servir para desestimular ainda mais iniciativas de regulamentação.


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