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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Palocci e o debate pobre

PARIS- Na conversa que teve com os jornalistas no sábado, em Lausanne, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, queixou-se do que considera falta de sintonia entre a discussão econômica no Brasil e a que acontece no resto do mundo.
Não entendi bem quais assuntos o ministro acha que o Brasil deveria estar debatendo, em vez de juros, crescimento, dívida (e, por extensão, reforma da Previdência).
Seja qual for, a premissa do ministro é falsa. O mundo está discutindo exatamente as mesmíssimas coisas de que se fala no Brasil.
Exemplos ao acaso: Paris estava parada ontem em consequência de uma greve convocada para protestar contra a reforma da seguridade social. Na Alemanha, o chanceler Gerhard Schröder acaba de enfiar goela abaixo de seu partido (o SPD, social-democrata) a mesma conversa (sobre reforma da seguridade social) que o PT tenta impor.
Não obstante a premissa incorreta, o ministro não deixa de ter razão: o debate econômico (e político) no Brasil é, sim, pobre. Mas por outras razões, das quais cito duas:
1 - Na Europa, a discussão se dá em torno da tentativa de preservar o máximo possível um Estado de bem-estar social invejável. No Brasil, que está a anos-luz de qualquer coisa realmente invejável (natureza à parte), discute-se apenas o aspecto contábil da coisa.
De quando em quando, uma ou outra voz lembra que acertar as contas públicas é importante, claro, mas tão ou mais importante é dar, de fato, segurança social.
2 - No Brasil, tenta-se fingir que o Banco Central é de outro planeta e que, portanto, toma suas decisões em ambiente asséptico, longe e livre de qualquer pressão.
Mentira. Em nenhum lugar do mundo é assim. Basta ver que o já citado Schröder acaba de sugerir que o BC europeu reduza os juros.
Se Palocci quer mesmo um debate menos pobre, é só entrar em campo com a cabeça mais aberta para outras vozes que não sejam as de sempre e que já fracassaram.


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