|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Fronteiras
BUENOS AIRES - Antigamente, a fronteira entre a esnobe Buenos Aires
e o restante do país, comum e corrente, era a avenida General Paz, aquela
que separa a capital federal argentina da Província também chamada
Buenos Aires.
Difícil era dizer se os portenhos, os
habitantes da capital federal, desprezavam mais os "macaquitos brasileños" ou os "cabecitas negras" da Província, que formavam a base do populismo peronista.
Parecia um pouco com Santiago do
Chile. Para Salvador Allende, o presidente que se suicidou para não render-se à infâmia do golpe militar de
1973, a fronteira entre os bairros "lindos" e o Chile profundo e verdadeiro
era a Plaza Itália.
Fica no fim (ou começo, sei lá) da
avenida Libertador Bernardo O'Higgins, que os santiaguinos chamam só
de "alameda", a principal avenida
da cidade, onde tudo acontece, politicamente ao menos.
Hoje, o Chile "lindo" além Plaza
Itália ficou muito mais opulento, sem
que o Chile profundo tenha mudado
tanto. A "fronteira" é, pois, mais nítida, mais larga.
Em Buenos Aires, a crise trouxe a
fronteira para mais perto do centro.
Hoje, a rigor, fica na avenida de Mayo, a que divide o norte mais rico do
sul mais pobre, a avenida em que as
ruas da capital mudam de nome, embora sigam em linha reta depois dela.
Ao sul da avenida de Mayo, aumenta, regularmente, um certo sabor
a La Paz ou a Lima, cidades mais tipicamente latino-americanas do que
a ainda formidável Buenos Aires. Esta velha e elegante senhora já tem dificuldades para esconder as feias cicatrizes deixadas por uma inacreditável sucessão de desacertos.
O diabo é que em São Paulo, sem
tantas e tão profundas crises, a obscena pobreza e a criminalidade incontrolável estão empurrando as fronteiras rumo a uma cidade "100% Jardim Irene".
Texto Anterior: Editoriais: ALARME NA AIDS
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Sem destino Índice
|