São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPANHA NEGATIVA

O debate entre presidenciáveis promovido pela TV Record, na noite de segunda-feira, marcou pelo menos duas mudanças em relação ao ocorrido em 4 de agosto na TV Bandeirantes. A rivalidade entre José Serra e Ciro Gomes tornou-se bem mais acirrada, tendo adentrado o terreno dos insultos; e houve uma nítida convergência entre os três candidatos de oposição nas críticas ao governo e a José Serra. Trata-se, evidentemente, de uma decorrência bastante compreensível da alteração repentina no quadro sucessório.
Está generalizado entre as assessorias dos presidenciáveis o diagnóstico sobre o que levou José Serra a praticamente anular, em poucos dias de campanha no rádio e na TV, toda a desvantagem que, nas pesquisas de intenção de voto, tinha em relação a Ciro Gomes. Os marqueteiros entendem que a exposição insistente de ataques à imagem do ex-governador do Ceará foi a responsável maior pela reviravolta. Daí parecem ter concluído que vale a pena utilizar a mesma estratégia de campanha negativa.
O interessante é notar que a aposta no conflito se desdobra diferentemente em cada candidatura, o que ficou patente no debate da Record. Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho como que estimularam a troca de farpas entre Ciro e Serra, confiando numa "destruição mútua" que estimularia o desalento de eleitores tanto com o pepessista como com o tucano. Serra, que empatou com Ciro mas não o ultrapassou, manteve a linha de tentar mostrar as "contradições" de seu oponente direto. Ciro Gomes, por seu turno, adotou de vez a tática de contragolpear Serra na mesma moeda.
Contingencialmente, o candidato do governo foi o alvo de várias linhas de tiro. Na lógica "negativa", quem ascende rapidamente, como ocorreu com Serra, se torna o alvo preferencial dos bombardeios. Resta saber até que ponto os eleitores vão responder favoravelmente à troca de ataques. A paciência do telespectador costuma colocar limites a esse tipo de estratégia. A campanha que primeiro perceber que essa fronteira foi ultrapassada tenderá, na reta final, a levar vantagem.


Texto Anterior: Editoriais: TENSÃO PERSISTENTE
Próximo Texto: Editoriais: SALVAR O MAR MORTO

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.