São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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A hora das pedagogias variadas

ARNALDO NISKIER

A mescla do presencial com o virtual na educação seria inteligente, como já se adota em países pós-industrializados

SEMPRE É hora para aprender mais. É verdadeira a frase "quanto mais se aprende, maior é a certeza de que nada sabemos". Ou quase nada. Por isso, não há como manifestar surpresa com o rebaixamento do pobre Plutão. Se virou planeta-anão, se deve ao aperfeiçoamento dos estudos astronômicos, beneficiados por equipamentos nunca antes sequer pensados.
Numa palestra no Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, o professor Fredric Litto, diretor da Escola do Futuro, fez uma série de considerações de grande relevo para os que se debruçam sobre as nossas perspectivas no mundo globalizado.
Há, hoje, dezenas de pedagogias variadas (não uma só), dada a organização diferente de cada cérebro, pela disposição nunca repetida de neurônios. Se é possível concordar com o dito "cada cabeça, uma sentença", como aceitar a apreensão de conhecimentos diferenciados por um mesmo e falsamente homogêneo grupo de pessoas?
Veja-se o caso do vestibular ou das provas elaboradas pelo MEC, iguais para todos.
O pior é que o fato se agrava em virtude da relativa morosidade com que são tratados os conhecimentos nas escolas, sem a atualização devida.
Querem um bom exemplo? Voltemos a Plutão. É um novo conceito de sistema solar. O MEC mandou avisar que só poderá promover as alterações nos milhões de livros didáticos que distribui gratuitamente a partir do ano letivo de 2008. Enquanto isso, professores e alunos trabalharão com livros defasados, o que reduz a sua credibilidade. Os exemplos poderiam ser muitos.
Aí entra o conceito de educação à distância. Com maior mobilidade e efeitos instantâneos, a mescla do presencial com o virtual seria inteligente, como já se adota em países pós-industrializados, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Austrália, Canadá etc. Aliás, na Austrália, há cursos totalmente à distância, no ensino superior, nos quais praticamente se dispensa até a colaboração do professor. O aluno aprende de acordo com o seu próprio ritmo.
Sendo sabido que a educação via web tem apenas dez anos, é de louvar o progresso rapidíssimo vivido por essa modalidade. Os alunos e os formados têm necessidade de se atualizar de seis em seis meses, e isso pode ser feito em casa, com um processo de educação "just-in-time" (na hora certa). A Universidade Indira Gandhi, na Índia, tem hoje 1 milhão e meio de alunos. É a maior do mundo, operando à distância, numa prova de que devemos prestar também muita atenção às perspectivas das megauniversidades. Elas virão com muita força, para tomar o seu lugar.
O Brasil dispõe de 3 milhões de pessoas trabalhando em casa e utilizando os dispositivos da educação à distância. O número pode parecer exagerado, mas não é.
Segundo dados da Escola do Futuro, 200 mil podem ser encontrados nos cursos universitários, 100 mil em cursos por correspondência (de longa tradição), 1 milhão e meio nas empresas, 600 mil no Telecurso 2000, 300 mil aprendendo via internet (com acesso via redes) e 300 mil por intermédio do competente Sistema S (Senac, Sesc etc).
Se quisermos levar a discussão para o sentido de negócio, veja-se o que ocorre com a Universidade Phoenix, nos Estados Unidos. Suas ações valem 7 bilhões de dólares na Bolsa de Nova York. Imaginar os americanos cometendo equívocos em suas aplicações financeiras é fora de propósito.
Na situação em que nos encontramos, levamos um banho de países como Argentina, Chile e México no que se refere ao atendimento à clientela dos 15 aos 24 anos de idade. Isso para não citar a Coréia do Sul, que tem 85% dos seus jovens, nessa faixa etária, freqüentando os cursos superiores. O Brasil tem menos de 10%. Não é hora de uma grande virada, a propósito do novo governo?


ARNALDO NISKIER, 70, professor, escritor e jornalista, é membro da Academia Brasileira de Letras, secretário de Estado da Educação do Rio de Janeiro e conselheiro do Instituto Metropolitano de Altos Estudos.

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