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A hora das pedagogias variadas
ARNALDO NISKIER
A mescla do presencial com o virtual na educação seria inteligente, como
já se adota em países pós-industrializados
SEMPRE É hora para aprender
mais. É verdadeira a frase "quanto mais se aprende, maior é a certeza de que nada sabemos". Ou quase
nada. Por isso, não há como manifestar surpresa com o rebaixamento do
pobre Plutão. Se virou planeta-anão,
se deve ao aperfeiçoamento dos estudos astronômicos, beneficiados por
equipamentos nunca antes sequer
pensados.
Numa palestra no Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, o professor Fredric Litto, diretor da Escola do Futuro, fez uma série
de considerações de grande relevo para os que se debruçam sobre as nossas
perspectivas no mundo globalizado.
Há, hoje, dezenas de pedagogias variadas (não uma só), dada a organização diferente de cada cérebro, pela
disposição nunca repetida de neurônios. Se é possível concordar com o
dito "cada cabeça, uma sentença", como aceitar a apreensão de conhecimentos diferenciados por um mesmo
e falsamente homogêneo grupo de
pessoas?
Veja-se o caso do vestibular ou das
provas elaboradas pelo MEC, iguais
para todos.
O pior é que o fato se agrava em virtude da relativa morosidade com que
são tratados os conhecimentos nas
escolas, sem a atualização devida.
Querem um bom exemplo? Voltemos a Plutão. É um novo conceito de
sistema solar. O MEC mandou avisar
que só poderá promover as alterações
nos milhões de livros didáticos que
distribui gratuitamente a partir do
ano letivo de 2008. Enquanto isso,
professores e alunos trabalharão com
livros defasados, o que reduz a sua
credibilidade. Os exemplos poderiam
ser muitos.
Aí entra o conceito de educação à
distância. Com maior mobilidade e
efeitos instantâneos, a mescla do presencial com o virtual seria inteligente,
como já se adota em países pós-industrializados, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Austrália, Canadá
etc. Aliás, na Austrália, há cursos totalmente à distância, no ensino superior, nos quais praticamente se dispensa até a colaboração do professor.
O aluno aprende de acordo com o seu
próprio ritmo.
Sendo sabido que a educação via
web tem apenas dez anos, é de louvar
o progresso rapidíssimo vivido por essa modalidade. Os alunos e os formados têm necessidade de se atualizar
de seis em seis meses, e isso pode ser
feito em casa, com um processo de
educação "just-in-time" (na hora certa). A Universidade Indira Gandhi, na
Índia, tem hoje 1 milhão e meio de
alunos. É a maior do mundo, operando à distância, numa prova de que devemos prestar também muita atenção às perspectivas das megauniversidades. Elas virão com muita força, para tomar o seu lugar.
O Brasil dispõe de 3 milhões de pessoas trabalhando em casa e utilizando
os dispositivos da educação à distância. O número pode parecer exagerado, mas não é.
Segundo dados da Escola do Futuro, 200 mil podem ser encontrados
nos cursos universitários, 100 mil em
cursos por correspondência (de longa
tradição), 1 milhão e meio nas empresas, 600 mil no Telecurso 2000, 300
mil aprendendo via internet (com
acesso via redes) e 300 mil por intermédio do competente Sistema S (Senac, Sesc etc).
Se quisermos levar a discussão para
o sentido de negócio, veja-se o que
ocorre com a Universidade Phoenix,
nos Estados Unidos. Suas ações valem
7 bilhões de dólares na Bolsa de Nova
York. Imaginar os americanos cometendo equívocos em suas aplicações
financeiras é fora de propósito.
Na situação em que nos encontramos, levamos um banho de países como Argentina, Chile e México no que
se refere ao atendimento à clientela
dos 15 aos 24 anos de idade. Isso para
não citar a Coréia do Sul, que tem 85%
dos seus jovens, nessa faixa etária,
freqüentando os cursos superiores. O
Brasil tem menos de 10%. Não é hora
de uma grande virada, a propósito do
novo governo?
ARNALDO NISKIER, 70, professor, escritor e jornalista, é
membro da Academia Brasileira de Letras, secretário de
Estado da Educação do Rio de Janeiro e conselheiro do Instituto Metropolitano de Altos Estudos.
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