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ELIANE CANTANHÊDE
Jobim no Haiti
PORTO PRÍNCIPE - No vôo de
ontem entre Miami e Porto Príncipe, no Haiti, havia umas duas centenas de negros e uma meia dúzia de
gatos pingados brancos, inclusive
eu. Já no desembarque, a primeira
cena da arrogância americana: um
sujeito louro e mal-humorado saiu
aos berros apenas porque o funcionário lhe pedia algo simples, a etiqueta de bagagem. Imagine se fosse
o contrário: o negro haitiano berrando com quem quer que fosse no
aeroporto de Miami.
Logo depois, li no UOL que o conselheiro da OAB Aderson Bussinger
redigiu um relatório condenando a
missão militar no Haiti, liderada
pelo Brasil, por ser "uma força de
ocupação e não humanitária, que
está validando os abusos de direitos
humanos no país".
Mas a questão é mais complexa.
Que os EUA querem mandar em todo o mundo, literalmente, não há
dúvida. Mas o Brasil é o Brasil, o
Haiti não é o Iraque e o continente
não iria continuar de olhos fechados para a tragédia política, econômica e humana do Haiti, o país mais
pobre do mundo fora da África.
Na prática, a missão não é dos
americanos, é da ONU, que financia
até os pêssegos e ameixas que os
brasileiros comem no Haiti. E o papel dos brasileiros é bastante
abrangente: combate às gangues assassinas, construção de estradas e
poços, distribuição de água e comida para as crianças.
Enquanto o conselheiro da OAB e
os partidos mais à esquerda criticam, os militares pedem o oposto: o
aumento do efetivo brasileiro de
1.200 para 1.300 homens, principalmente na área de engenharia.
A liderança brasileira no Haiti é
considerada estratégica por mil e
um motivos, além de ter um caráter
que o ministro da Defesa, Nelson
Jobim, deixou claro ontem: é um
ótimo treinamento de tropas militares para a garantia da lei e da ordem. Está claro que o primeiro passo foi dado no Haiti, e a mudança
está para chegar no Brasil.
elianec@uol.com.br
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