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CARLOS HEITOR CONY
Abrahão Koogan
RIO DE JANEIRO - Semana passada, o Brasil perdeu Abrahão Koogan, o
editor que nos trouxe uma visão cosmopolita dos fatos culturais, editando e contatando autores internacionais, abrindo um generoso leque de
dicionários e enciclopédias que hoje
compõem as estantes de professores e
alunos, pesquisadores e eruditos.
Vindo da antiga Rússia, Koogan logo abriu sua livraria, mais tarde
transformada em editora. Associado
à Larousse, inundou o mercado brasileiro com as nossas primeiras enciclopédias, até que se aliou a Antônio
Houaiss e produziu sem parar, usando diferentes selos editoriais, mas em
todos deixando a marca de seu bom
gosto e de sua integridade intelectual.
Lançou a monumental coleção Nobel, com livros representativos dos
autores laureados com o maior prêmio literário do mundo. Amigo e editor de toda a obra de Stefan Zweig,
foi por ele designado seu testamenteiro e procurador com amplos poderes.
As cartas contendo as últimas instruções do autor austríaco foram a ele
dirigidas. Stefan confiava nele como
num irmão.
Amante da cultura e da literatura
francesa, tinha uma bela coleção de
pintores modernos, gostava de Utrillo
e Buffet, foi um homem de extraordinário bom gosto.
Eu estava fora do Rio quando morreu. A família dele desejava que, como amigo, eu dissesse algumas palavras em seu velório. Bastaria citar
seus companheiros mais próximos.
Houaiss, que formaria com ele a dupla mais dinâmica da cultura nacional. E Ênio Silveira, Jorge Zahar, Samuel Malamud, Viana Moog, Alfredo Machado.
Curiosamente, Koogan e Houaiss,
um judeu e um árabe, espantavam a
todos quando viajavam, sempre juntos, um não achava graça no mundo
sem o outro ao lado. Era bom encontrá-los em Roma ou Paris, sempre
nos melhores restaurantes. Falar com
um era o mesmo que falar com o outro.
Grande Koogan! Foi bom gostar de
você.
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