São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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CARLOS HEITOR CONY

Abrahão Koogan

RIO DE JANEIRO - Semana passada, o Brasil perdeu Abrahão Koogan, o editor que nos trouxe uma visão cosmopolita dos fatos culturais, editando e contatando autores internacionais, abrindo um generoso leque de dicionários e enciclopédias que hoje compõem as estantes de professores e alunos, pesquisadores e eruditos.
Vindo da antiga Rússia, Koogan logo abriu sua livraria, mais tarde transformada em editora. Associado à Larousse, inundou o mercado brasileiro com as nossas primeiras enciclopédias, até que se aliou a Antônio Houaiss e produziu sem parar, usando diferentes selos editoriais, mas em todos deixando a marca de seu bom gosto e de sua integridade intelectual.
Lançou a monumental coleção Nobel, com livros representativos dos autores laureados com o maior prêmio literário do mundo. Amigo e editor de toda a obra de Stefan Zweig, foi por ele designado seu testamenteiro e procurador com amplos poderes. As cartas contendo as últimas instruções do autor austríaco foram a ele dirigidas. Stefan confiava nele como num irmão.
Amante da cultura e da literatura francesa, tinha uma bela coleção de pintores modernos, gostava de Utrillo e Buffet, foi um homem de extraordinário bom gosto.
Eu estava fora do Rio quando morreu. A família dele desejava que, como amigo, eu dissesse algumas palavras em seu velório. Bastaria citar seus companheiros mais próximos. Houaiss, que formaria com ele a dupla mais dinâmica da cultura nacional. E Ênio Silveira, Jorge Zahar, Samuel Malamud, Viana Moog, Alfredo Machado.
Curiosamente, Koogan e Houaiss, um judeu e um árabe, espantavam a todos quando viajavam, sempre juntos, um não achava graça no mundo sem o outro ao lado. Era bom encontrá-los em Roma ou Paris, sempre nos melhores restaurantes. Falar com um era o mesmo que falar com o outro.
Grande Koogan! Foi bom gostar de você.


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