São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Não há "risco PT"

SÃO PAULO - O PT tornou-se um partido grande. Pode até perder na cidade de São Paulo e em outros grandes centros, mas a apuração parcial de ontem indicava que a sigla será uma das quatro que mais recebeu votos para prefeito no país.
E daí? Há uma ameaça para a democracia? O centralismo democrático (sic) e os 10% que os petistas doam do salário para o partido -inclusive quando em cargos públicos- não seriam métodos ruins para a República? O PT vai se tornar uma espécie de partido único, sufocando os demais? Mais ou menos. Depende do poder de reação dos adversários.
Quando o PMDB ganhou eleições em quase todo o país no auge do Plano Cruzado, em 1986, imaginava-se a mesma coisa. O PMDB esmagaria os demais. O desastre da administração econômica incumbiu-se de empurrar a sigla para os grotões.
No caso do PT é a mesma coisa. Se Lula fracassar na economia, será punido nas urnas. É justo.
Ocorre que há uma diferença entre os petistas e as outras agremiações: os seguidores de Lula organizaram-se de maneira profissional, quase como uma empresa. Em termos gerenciais, o PT é hoje uma mistura de Partido Democrata (dos EUA) com as tradicionais agremiações sociais-democratas européias.
O petista recebe carteirinha. Compra camisetas, broches e isqueiros com a estrela da sigla. Diretórios do PT em mais de 4.000 cidades estão interligados por internet em banda larga. Manuais são distribuídos. Possíveis candidatos são aconselhados, em grandes seminários, a resolver seus problemas particulares antes de entrar em campanha. Em resumo, o PT não está a passeio na política.
É essa organização -muitas vezes autoritária, vá lá- que incomoda as outras grandes siglas. PSDB e PFL reagem como se o problema estivesse no PT. Estão errados. A origem da ascensão petista Brasil afora está alicerçada na resistência de tucanos e pefelistas em se profissionalizarem. O risco PT é diretamente proporcional à preguiça de alguns adversários.


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