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FERNANDO RODRIGUES
Não há "risco PT"
SÃO PAULO - O PT tornou-se um partido grande. Pode até perder na
cidade de São Paulo e em outros
grandes centros, mas a apuração parcial de ontem indicava que a sigla será uma das quatro que mais recebeu
votos para prefeito no país.
E daí? Há uma ameaça para a democracia? O centralismo democrático (sic) e os 10% que os petistas doam
do salário para o partido -inclusive
quando em cargos públicos- não seriam métodos ruins para a República? O PT vai se tornar uma espécie de
partido único, sufocando os demais?
Mais ou menos. Depende do poder de
reação dos adversários.
Quando o PMDB ganhou eleições
em quase todo o país no auge do Plano Cruzado, em 1986, imaginava-se a
mesma coisa. O PMDB esmagaria os
demais. O desastre da administração
econômica incumbiu-se de empurrar
a sigla para os grotões.
No caso do PT é a mesma coisa. Se
Lula fracassar na economia, será punido nas urnas. É justo.
Ocorre que há uma diferença entre
os petistas e as outras agremiações: os
seguidores de Lula organizaram-se
de maneira profissional, quase como
uma empresa. Em termos gerenciais,
o PT é hoje uma mistura de Partido
Democrata (dos EUA) com as tradicionais agremiações sociais-democratas européias.
O petista recebe carteirinha. Compra camisetas, broches e isqueiros
com a estrela da sigla. Diretórios do
PT em mais de 4.000 cidades estão interligados por internet em banda larga. Manuais são distribuídos. Possíveis candidatos são aconselhados, em
grandes seminários, a resolver seus
problemas particulares antes de entrar em campanha. Em resumo, o PT
não está a passeio na política.
É essa organização -muitas vezes
autoritária, vá lá- que incomoda as
outras grandes siglas. PSDB e PFL
reagem como se o problema estivesse
no PT. Estão errados. A origem da ascensão petista Brasil afora está alicerçada na resistência de tucanos e pefelistas em se profissionalizarem. O risco PT é diretamente proporcional à
preguiça de alguns adversários.
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