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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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O DINHEIRO DO TERROR

Existem no mundo 191 países pertencentes à ONU. É praticamente impossível fazer com que todos eles tenham regras efetivas de controle da lavagem de dinheiro. Ainda que existisse um consenso acerca das normas mínimas, não haveria meio de impô-las aos Estados que não as desejassem.
É nesse contexto que se explica o relativo fracasso das tentativas de acabar com os meios de financiamento ao terrorismo. Nos primeiros meses após os atentados de 11 de setembro de 2001, uma rápida mobilização de 144 países permitiu o congelamento de US$ 113 milhões supostamente pertencentes à rede terrorista Al Qaeda. Muito pouco se avançou desde então.
Atividades ilegais geram, em todo o mundo, várias centenas de bilhões de dólares por ano. Esse enorme montante de dinheiro precisa, pela própria lógica do capitalismo, retornar de algum modo à economia. É aí que entram a lavagem de dinheiro e os paraísos fiscais. De resto, os sistemas usados para "esquentar" o dinheiro não costumam distinguir o tipo de crime que lhe deu origem -se foi uma sonegação fiscal ou a venda de toneladas de cocaína- e muito menos para onde os recursos vão -se para financiar um atentado ou a compra de um jogador de futebol.
Uma dificuldade adicional no caso do terrorismo islâmico está no fato de que é dever do bom muçulmano destinar 2,5% de seus rendimentos aos pobres. É a "zakat", a esmola, na falta de melhor tradução. Instituições beneficentes islâmicas recolhem esse dinheiro e o levam aos que dele necessitam. É muito difícil distinguir entre usos legítimos e o financiamento, por exemplo, de escolas religiosas que instigam o terrorismo. A própria Al Qaeda receberia algo em torno de US$ 16 milhões anuais via "zakat".
É preciso seguir com os esforços para combater a lavagem de dinheiro em nível mundial, mas seria ingenuidade esperar muito dessa frente de batalha. A lavagem de dinheiro é um subproduto do capitalismo.


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