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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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MARCIO AITH

Classe sindical vai ao paraíso

SÃO PAULO - Com poucas canetadas e sem muito barulho, o presidente Lula está revitalizando as finanças do sistema sindical brasileiro.
CUT, Força Sindical e suas respectivas entidades passaram a usar novas atribuições que ganharam do Estado para elevar receitas e recuperar o vigor político perdido nos anos 90.
A Força Sindical deu o primeiro passo, beneficiando-se da medida provisória que autoriza empréstimos com desconto em folha de pagamento. No acordo que realizou com o Santander Banespa, inseriu cláusula que destina a seu próprio caixa 0,5% do total que o banco emprestar a cada metalúrgico. Outro 0,5% vai para o sindicato da categoria. Ou seja: se o trabalhador receber R$ 1.000 do banco para comprar uma geladeira, central e sindicato levam R$ 5 cada um. Não é pouca coisa. O sindicato dos metalúrgicos de São Paulo tem 280 mil trabalhadores em sua base.
A CUT optou por um mecanismo mais sutil. Num acordo sobre o mesmo tema com 19 bancos, inseriu taxas mais favoráveis aos trabalhadores que forem sócios de seus sindicatos. Trata-se de um estímulo eficiente à sindicalização, que despencou de 28% para 16% no país entre 89 e 99, período caracterizado pelo declínio do emprego industrial.
Esses acordos são prenúncios do que está por vir. O governo já autorizou sindicatos a criar cooperativas de créditos que poderão funcionar como bancos. Além disso, permitiu a essas entidades instituir planos de previdência. Como os dois serviços podem ser terceirizados, lobbies influentes flertam com líderes sindicais em busca de parcerias lucrativas.
A nova realidade permite aos sindicalistas experimentar um gosto inédito de poder. Nesse aspecto, aproxima-os dos poderosos e pragmáticos líderes sindicais americanos.
O futuro dirá se as novidades substituirão a herança getulista do imposto e da unicidade sindicais ou se, como todas as outras novidades no país, irão coabitar com ela, num desfecho preocupante.


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