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MARCIO AITH
Classe sindical vai ao paraíso
SÃO PAULO - Com poucas canetadas e sem muito barulho, o presidente
Lula está revitalizando as finanças
do sistema sindical brasileiro.
CUT, Força Sindical e suas respectivas entidades passaram a usar novas
atribuições que ganharam do Estado
para elevar receitas e recuperar o vigor político perdido nos anos 90.
A Força Sindical deu o primeiro
passo, beneficiando-se da medida
provisória que autoriza empréstimos
com desconto em folha de pagamento. No acordo que realizou com o
Santander Banespa, inseriu cláusula
que destina a seu próprio caixa 0,5%
do total que o banco emprestar a cada metalúrgico. Outro 0,5% vai para
o sindicato da categoria. Ou seja: se o
trabalhador receber R$ 1.000 do banco para comprar uma geladeira, central e sindicato levam R$ 5 cada um.
Não é pouca coisa. O sindicato dos
metalúrgicos de São Paulo tem 280
mil trabalhadores em sua base.
A CUT optou por um mecanismo
mais sutil. Num acordo sobre o mesmo tema com 19 bancos, inseriu taxas mais favoráveis aos trabalhadores que forem sócios de seus sindicatos. Trata-se de um estímulo eficiente
à sindicalização, que despencou de
28% para 16% no país entre 89 e 99,
período caracterizado pelo declínio
do emprego industrial.
Esses acordos são prenúncios do
que está por vir. O governo já autorizou sindicatos a criar cooperativas de
créditos que poderão funcionar como
bancos. Além disso, permitiu a essas
entidades instituir planos de previdência. Como os dois serviços podem
ser terceirizados, lobbies influentes
flertam com líderes sindicais em busca de parcerias lucrativas.
A nova realidade permite aos sindicalistas experimentar um gosto inédito de poder. Nesse aspecto, aproxima-os dos poderosos e pragmáticos
líderes sindicais americanos.
O futuro dirá se as novidades substituirão a herança getulista do imposto e da unicidade sindicais ou se,
como todas as outras novidades no
país, irão coabitar com ela, num desfecho preocupante.
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