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CARLOS HEITOR CONY
O custo do Fome Zero
RIO DE JANEIRO - O Sistema Integrado de Administração Financeira
(Siafi) revelou que, até 22 de outubro
passado, para cada real que chegou a
seu destino assistencial, o Fome Zero
gastou R$ 1,77, quase 80% na caridosa operação de matar a fome do povo
brasileiro.
Não costumo dar muita bola para
pesquisas e estatísticas, mas não precisava ser exatamente um sábio ou
um técnico para prever que o carro-chefe do PT, desfilando na passarela
pública desde os primeiros dias de governo, foi mera jogada de marketing
para encher o vazio dos primeiros
dias da nova administração.
Se há uma coisa que todos conhecemos são as origens de Lula -as mais
nobres, por sinal. Ele se iniciou na vida pública como líder operário, lutando pelo conjunto de reivindicações que historicamente formam o
ideário da luta sindical: justiça salarial, condições humanas de trabalho
etc.
Candidato presidencial quatro vezes, teve tempo de ampliar seu equipamento político e social. E o fez de
maneira certa, aprendendo a necessidade da reforma agrária, da distribuição de renda menos obscena, da
urgente criação de empregos. No fundo, se concentrasse todas as suas
energias e as energias do novo governo neste temário tão óbvio, ele talvez
não acabasse com a fome de forma
absoluta, mas a reduziria a níveis
progressivamente satisfatórios.
Absorvendo a campanha improvisada que lhe sugeriram, provavelmente por conta das inevitáveis sobras de campanha, ele embarcou numa canoa furada, que, mais cedo ou
mais tarde, ficará encalhada em algum escolho dos muitos que atrapalham a navegação da nau do Estado.
Devemos lamentar o dinheiro gasto
numa operação complicada e estéril,
o discurso inútil daqueles que defendem o programa. Devemos lamentar,
principalmente, o oportunismo demagógico que o criou.
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