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CLÓVIS ROSSI
Se loucos, são muitos
MIAMI - O mandato dos presidentes norte-americanos, para todos os efeitos práticos, é de oito anos, com um
plebiscito no meio dele (na forma de
eleição presidencial) para revalidá-lo
ou revogá-lo.
Sendo assim, George Walker Bush
revalidou o seu mandato na terça-feira. Se houvesse alguma dúvida sobre o caráter plebiscitário do voto,
bastaria ler as pesquisas de boca-de-urna: três quartos dos eleitores de
John Kerry dizem que, na verdade,
votaram contra Bush, e não a favor
do candidato democrata.
Nessas circunstâncias, perdem
qualquer sentido as considerações sobre a ilegitimidade do mandato de
Bush em razão das circunstâncias
exóticas, para dizer o menos, em que
foi eleito no ano 2000. Não que o exotismo tenha desaparecido, mas o eleitor norte-americano, ainda que por
uma leve maioria, avalizou tudo o
que houve de lá para cá.
Pode-se e deve-se continuar criticando Bush por suas políticas, mas
não se deve cair na ingenuidade de
supor que elas são produto de um
grupo de tarados que assaltou o poder para pôr em prática idéias extremistas. Ao contrário, Bush é produto
de sentimentos profundos na sociedade norte-americana, alguns deles
já antigos, outros surgidos a partir
dos atentados de 11 de Setembro (de
2001), cujo peso na alma norte-americana vai levar ainda alguns anos
para ser devidamente avaliado.
Um dado é revelador: pesquisa recente do Council on Foreign Relations, seção de Chicago, mostra que
29% dos norte-americanos apóiam
torturas para extrair confissões de
acusados de terrorismo (acusados,
não condenados, frise-se).
É a minoria, sim, mas é um número
brutal quando se leva em conta a luta pelos direitos civis no país, ainda
que, para exportação, os governos
norte-americanos pouco se importem
com eles.
Por puro palpite, suspeito que Bush
será agora menos fundamentalista.
Mas a realidade é que, se há loucos
na Casa Branca, estão na companhia
de quase 60 milhões de norte-americanos, o que é muito dizer.
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