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ELIANE CANTANHÊDE
O Brasil e o império
RIO DE JANEIRO - Para o mundo, George W. Bush é o presidente americano que invadiu o país alheio sob
falsos pretextos e sem ter a menor
idéia de como articular a retirada.
Para o Brasil, tanto faz Bush ou John
Kerry. Ou tanto fazia.
Passada a eleição e confirmada a
expectativa de reeleição de Bush, o
governo Lula volta à carga para lembrar as diferenças. É por isso, ou também por isso, que Lula deverá fazer
discurso amanhã defendendo uma
aproximação e um aprofundamento
do diálogo dos países latino-americanos com Cuba.
Durante a campanha americana,
Planalto e Itamaraty andavam bem
caladinhos em público e anunciavam
em privado que, apesar das graves divergências, pragmaticamente preferiam Bush. As conversas entre os dois
governos vão bem nas questões pontuais de interesse mútuo, e a combinação de uma grande potência com
um presidente medíocre é menos
agressiva ao equilíbrio internacional.
Passada a campanha, esquecem-se
as convergências e os pragmatismos,
volta-se à carga. Daí porque Lula
aproveita a reunião de hoje e amanhã de 12 dos 19 presidentes do Grupo do Rio (países das três Américas)
para lembrar que tem simpatia, sim,
por Fidel Castro e quer a aproximação de todos com Cuba.
Ou seja, a intenção é juntar duas
circunstâncias, o resultado da eleição
americana e a reunião do grupo latino-americano, para reafirmar uma
política externa que se pretende "independente" e "pró-ativa".
Para colorir o recado diplomático,
está no Rio desde ontem o maior
aliado de Cuba e maior adversário
de Washington, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ele vai adorar o discurso preparado por Lula,
mas os dois não vão conseguir o consenso. O Grupo do Rio, integrado
também por países da América Central solidamente atrelados aos Estados Unidos, é refratário a acenos em
direção a Fidel .
É um atraso num mundo globalizado e pragmático, mas Bush é um
atraso em si mesmo. Se a maior potência não ouve nem a ONU, por que
seu quintal ouviria Cuba?
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