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CLÓVIS ROSSI
A excelência exportada
SÃO PAULO - Faltou dizer sobre a
Copa de 2014 no Brasil que ela não
vai alterar minimamente o grande
problema do futebol brasileiro, que
é o seguinte: a fábrica Brasil de jogadores de futebol deixou de produzir, já faz algum tempo, matéria-prima suficiente para abastecer
tanto o mercado interno como o
mercado externo.
Como o mercado externo é portentoso, absorve o melhor material
da terra e deixa o Brasil com campeonatos locais de uma imensa, assustadora mediocridade.
Antes mesmo de que uma promessa se transforme em bom jogador, ele já está com um pé -ou os
dois- na Europa, como é o caso,
agora, de Lulinha, do Corinthians,
apenas o mais recente exemplo de
uma longuíssima lista.
Não se trata só de preocupação
com o "circo", ainda que circo também seja necessário.
Seria grotesco, a esta altura do
campeonato, recair no "futebol,
ópio do povo", uma frase de grande
consumo entre intelectuais "gauchistas" anos atrás. O tal de povo
gosta de futebol, e não há mal nenhum em lhe oferecer um espetáculo de melhor qualidade do que os
atuais torneios nacionais.
Mas se trata também de pão, no
sentido de "business". Futebol, como o esporte em geral, tornou-se
um grande negócio, que movimenta bilhões de dólares, euros e outras
moedas. O Brasil recebe uma fatia
desse maná por meio da venda de
jogadores, mas as fábricas que os
produzem (os clubes) vivem na
mais absoluta penúria.
Diz alguma coisa sobre a capacidade de um país tornar-se ou não
grande no mundo o fato de conseguir ou não sustentar internamente
uma atividade -a única aliás- em
que tem mão-de-obra de qualidade
reconhecidamente superior.
Se o melhor -e mais rico- futebol brasileiro está na Europa, fica
difícil para o Brasil competir em outras áreas nas quais sua expertise
ou é embrionária ou nem existe.
crossi@uol.com.br
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