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CARLOS HEITOR CONY
A pureza da raça
RIO DE JANEIRO - Acompanhei
por alto a polêmica declaração do
Sérgio Cabral a respeito da relação
entre explosão demográfica e a onda de violência que atravessamos.
Creio que o governador não foi bem
entendido. Fizeram de seu comentário o ponto de partida para um tipo de eugenia semelhante à do
racismo.
A posição de Sérgio não difere da
pregação de diversas religiões, inclusive a católica, que combate o
aborto e prega a paternidade responsável. Famílias sem condições
de gerar filhos saudáveis, capazes
de receber a educação básica da sociedade, deveriam evitar a paternidade por outros meios que não o
aborto.
Seria necessário um mutirão colossal na sociedade para que os casais tivessem consciência das reais
condições em que vão gerar os filhos. A longo prazo, a taxa da violência diminuiria radicalmente, e a
melhora não seria apenas no setor
do crime, mas nas relações gerais
do indivíduo com a comunidade, na
família, na escola, no trabalho.
A solução do aborto, além de envolver uma discussão moral, social
e religiosa, está longe de ser uma
panacéia salvadora que livraria a
sociedade de vários males, o da violência e o da miséria.
Já contei há tempo, neste espaço,
o caso de uma mulher na Alemanha
no século 18. Com mais de 52 anos,
não tinha idade segura para engravidar, mesmo assim engravidou.
Era pobre, sofria de tuberculose, tinha hemoptises diárias, fora internada diversas vezes em asilos por
distúrbios psiquiátricos.
Um médico examinou-a e solicitou ao Departamento de Saúde Pública de Bonn a licença para interromper a gravidez, que, entre outras coisas, colocava em risco a vida
da mãe e do filho.
A licença foi negada. O filho nasceu. Era desconjuntado, surdo, anti-social. Seu nome: Ludwig von
Beethoven.
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