São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Papel de bons professores

HÁ CERCA de dois meses, defendi, nesta coluna, que a melhoria do nosso ensino dependia muito de um aperfeiçoamento dos professores e da gestão das escolas. O tema é controverso, porque muitos colocam toda a carga no aumento dos investimentos e da remuneração dos professores.
Não desprezo essa providência, pois o Brasil precisa melhorar muito nesses campos. A remuneração é baixa para a maioria dos brasileiros. Cerca de dois terços recebem até três salários mínimos por mês, o que é muito pouco para manter uma família.
Voltemos à questão do ensino. A consultoria McKinsey realizou extensa pesquisa para saber o que determina o sucesso de alguns países que têm padrões altíssimos nesse campo. Um resumo da pesquisa foi publicado no texto "O que funciona na educação" (Folha, 28/10).
Para os céticos a respeito do papel da qualidade dos professores e da gestão, lamento dizer que os fatos não estão a seu favor. Ao examinar a situação de vários países, aquela consultoria concluiu que o montante de recursos destinado à educação não é o fator principal.
O que pesa mesmo são professores bem preparados e altamente comprometidos com a educação das crianças, ao lado dos diretores das escolas. Quando os alunos não vão bem, diretores e professores fazem uma intervenção imediata, com aulas de reforços ministradas pelos melhores professores.
As provas apresentadas são inquestionáveis. Alunos de capacitação média, quando ensinados pelos professores que estão entre os 20% mais competentes, terminam entre os 10% de estudantes de melhor desempenho. Quando são ensinados pelos professores que estão entre os 20% mais fracos, os alunos terminam entre os 10% de pior desempenho.
Os países que têm mais sucesso ensinam os professores continuamente. Em todos os países de sucesso, os professores têm um dia livre para se aperfeiçoar e para visitar colegas de outras escolas, com quem discutem métodos de ensino e planejam juntos. Máxima atenção é dada ao processo de avaliação de alunos e de professores.
E tudo é minuciosamente sincronizado pelos diretores, que atuam como verdadeiros maestros para selecionar os melhores mestres, ensiná-los o tempo todo, levar adiante as melhores práticas e acudir os alunos mais necessitados.
Países como a Finlândia têm um grande número de professores para atender os retardatários. Cingapura dá aulas extraordinárias a 20% dos alunos. O mesmo ocorre na Coréia do Sul e Nova Zelândia. Esses países investem em educação muito menos que nações ricas que estão em pior situação. É um assunto para pensar. Ou seja, trabalho bem feito conta -e muito.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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