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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Papel de bons professores
HÁ CERCA de dois meses, defendi, nesta coluna, que a
melhoria do nosso ensino
dependia muito de um aperfeiçoamento dos professores e da gestão
das escolas. O tema é controverso,
porque muitos colocam toda a carga no aumento dos investimentos e
da remuneração dos professores.
Não desprezo essa providência,
pois o Brasil precisa melhorar muito nesses campos. A remuneração é
baixa para a maioria dos brasileiros. Cerca de dois terços recebem
até três salários mínimos por mês,
o que é muito pouco para manter
uma família.
Voltemos à questão do ensino. A
consultoria McKinsey realizou extensa pesquisa para saber o que determina o sucesso de alguns países
que têm padrões altíssimos nesse
campo. Um resumo da pesquisa foi
publicado no texto "O que funciona na educação" (Folha, 28/10).
Para os céticos a respeito do papel da qualidade dos professores e
da gestão, lamento dizer que os fatos não estão a seu favor. Ao examinar a situação de vários países,
aquela consultoria concluiu que o
montante de recursos destinado à
educação não é o fator principal.
O que pesa mesmo são professores bem preparados e altamente
comprometidos com a educação
das crianças, ao lado dos diretores
das escolas. Quando os alunos não
vão bem, diretores e professores
fazem uma intervenção imediata,
com aulas de reforços ministradas
pelos melhores professores.
As provas apresentadas são inquestionáveis. Alunos de capacitação média, quando ensinados pelos professores que estão entre os
20% mais competentes, terminam
entre os 10% de estudantes de melhor desempenho. Quando são ensinados pelos professores que estão entre os 20% mais fracos, os
alunos terminam entre os 10% de
pior desempenho.
Os países que têm mais sucesso
ensinam os professores continuamente. Em todos os países de sucesso, os professores têm um dia livre para se aperfeiçoar e para visitar colegas de outras escolas, com
quem discutem métodos de ensino
e planejam juntos. Máxima atenção é dada ao processo de avaliação
de alunos e de professores.
E tudo é minuciosamente sincronizado pelos diretores, que
atuam como verdadeiros maestros
para selecionar os melhores mestres, ensiná-los o tempo todo, levar
adiante as melhores práticas e acudir os alunos mais necessitados.
Países como a Finlândia têm um
grande número de professores para atender os retardatários. Cingapura dá aulas extraordinárias a
20% dos alunos. O mesmo ocorre
na Coréia do Sul e Nova Zelândia.
Esses países investem em educação muito menos que nações ricas
que estão em pior situação. É um
assunto para pensar. Ou seja, trabalho bem feito conta -e muito.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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