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FERNANDO RODRIGUES
Clima, moeda de troca
BRASÍLIA - Lula se reuniu ontem
de novo com alguns de seus ministros para tentar formular qual será
a política do país para conter o
avanço das mudanças climáticas.
Nada ficou decidido.
Continua a queda de braço entre
desenvolvimentistas e ambientalistas. Há um conflito entre quem deseja proteger o meio ambiente e
aqueles cujo argumento é a favor de
mais crescimento econômico -o
que causaria mais poluição.
Uma outra explicação é da linha
utilitarista. O Brasil se mantém reticente em adotar metas ousadas de
redução na emissão de gases que
provocam o efeito estufa porque
2010 é um ano eleitoral. Doadores
graúdos de campanha são do setor
agropecuário. Ficariam irritados
com regras ambientais rígidas.
Uma hipótese assim nunca deve
ser descartada. Dinheiro em eleição
é um tema delicado. Mas não parece crível um presidente com até
80% de popularidade em algumas
pesquisas estar muito preocupado
com a opinião de plantadores de soja ou de criadores de gado.
O principal fator a nortear o titubeio público e deliberado do Brasil
tem conteúdo geopolítico. A posição brasileira sobre o clima está
sendo usada como moeda de troca
na relação com outras nações emergentes e algumas desenvolvidas. O
governo Lula não deseja melindrar
nem constranger seus aliados adotando metas arrojadas para redução de gases do efeito estufa. Em
contrapartida, espera continuar a
acumular apoios para um assento
permanente do país no Conselho de
Segurança da ONU.
No dia 14, Lula faz uma nova reunião. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já antecipou a intenção de não fixar metas: "Serão linhas gerais. Não vamos apresentar
os números". Assim será.
Se der tudo errado, o Brasil fica
sem vaga permanente no Conselho
de Segurança da ONU e com a fama
de mau gestor de seus recursos naturais. É alta a aposta de Lula.
frodriguesbsb@uol.com.br
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