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AJUSTE NA META
A inflação esperada para 2003
pelo mercado subiu novamente e agora supera 10%. Com isso, aumentou ainda mais a discrepância
entre as expectativas do setor privado
e a meta oficial do BC, que é de limitar a inflação (medida pela IPCA) a
no máximo 6,5% no ano que vem.
Diante disso, o coordenador da
equipe de transição do futuro governo federal, Antônio Palocci, afirmou
que a alteração da meta de inflação
de 2003 poderá ser discutida no final
deste ano ou no início do próximo.
Alguns analistas poderão interpretar a atitude como sinal de tolerância
excessiva com a inflação. Esses analistas defendem que o BC determine
forte alta da taxa de juros para viabilizar o cumprimento da meta já definida, sob o argumento de que somente
assim a política de metas poderia
preservar sua credibilidade.
Essa opção tem sua lógica, mas traria riscos significativos. A alta dos juros pressionaria os gastos com a dívida pública e por isso teria de ser
acompanhada de elevação também
agressiva do superávit primário do
setor público. Sob o impacto combinado dos choques de juros e fiscal, a
atividade econômica tenderia a se
contrair. Isso prejudicaria a receita de
impostos, gerando a necessidade de
cortes adicionais de gastos, ou aumentos de impostos, para obter o superávit primário almejado. Esse seria
um fator adicional a derrubar a atividade econômica -ameaçando criar
um círculo vicioso recessivo.
Cabe indagar se esses sacrifícios e
riscos se justificariam em nome do
cumprimento da atual meta de inflação. A declaração de Palocci sugere
que ele, assim como muitos analistas, avalia que essa meta foi praticamente inviabilizada diante da alta excepcionalmente forte do dólar. Se a
meta atual se tornou estrita demais,
parece sensato buscar outra. O que
não significa -é importante sublinhar- abrir mão de definir uma meta para a inflação. É desejável preservar a única "âncora" nominal que
restou na economia desde a adoção
do sistema de câmbio flutuante
-cuidando para que essa "âncora"
se mantenha realista e crível.
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