São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Posse prematura

SÃO PAULO - O PT está assumindo cedo demais os ônus de ser governo. Essa sensação já vinha de antes, não é apenas minha, mas torna-se mais forte agora que Antônio Palocci, tido como futuro ministro da Fazenda, foi o porta-voz do descontentamento (explicável e natural) com o rebaixamento dos títulos da dívida brasileira pelo banco JP Morgan.
Palocci disse que "o Brasil tem-se mostrado um país economicamente forte, superando de maneira muito positiva os seus obstáculos", de acordo o noticiário da Folha Online.
Seria bom tentar pôr um pouco de perspectiva na coisa.
Ponto 1 - Se o Brasil se tem mostrado "um país economicamente forte", muitas das críticas do PT ao desempenho econômico no período FHC, como as feitas por Luiz Inácio Lula da Silva em Buenos Aires, ficam no mínimo esmaecidas.
De duas, uma: ou o Brasil tem-se mostrado um país economicamente forte (para Palocci) ou ficou vulnerável à especulação (para Lula).
Ponto 2 - A culpa pela vulnerabilidade não pode, a não ser com tremenda má-fé, ser atribuída ao PT, que, afinal só toma posse no dia 1º, por mais que haja um ambiente mais ou menos generalizado de "sob nova gerência" pendurado desde já no Palácio do Planalto.
Ponto 3 - É verdade que o JP Morgan usou supostas dificuldades futuras do PT no Congresso para justificar o rebaixamento.
Mas é chute, tão bom ou tão ruim quanto qualquer chute. Ninguém, hoje, está em condições de avaliar qual será a força parlamentar do futuro governo, que, de resto, dependerá de iniciativas concretas que ainda não foram anunciadas.
Portanto ao PT cabe repudiar o chute (o milionésimo de agentes do mercado desde a campanha eleitoral até agora). A suposta resistência da economia tupiniquim fica para ser provada depois da posse. Aí, sim, o PT terá de ser governo, de boca e de caneta.


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