São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Velhos conselhos para o novo governo ERIKSOM TEIXEIRA LIMA
As mudanças desejadas pelos brasileiros correm risco diante do assanhamento de velhas e más idéias.
Dentre elas, pode-se destacar o porto de
Sepetiba, o Rodoanel, a Ferronorte, a
saída para o Pacífico e a inesgotabilidade agrícola dos cerrados. Para todas
existem estudos e projeções oficiais que
avalizam sua necessidade. Infelizmente,
os órgãos públicos "trabalham" dados
para agradar a dirigentes.
Quanto à saída para o Pacífico, basta examinar as distâncias marítimas para concluir que algo está errado nas projeções oficiais. A menor distância entre os portos de Cingapura e o chinês Hong Kong para os portos sul-americanos é a rota via sul da África até Santos, Paranaguá ou Vitória. Os outros portos sul-americanos estão em média 15% mais longe (9.000 milhas contra 10,5 mil). Essa situação se inverte quando se toma a distância entre os portos mais setentrionais da Ásia, o coreano Pusan, outro chinês, o de Xangai, e o japonês Yokohama: os mais próximos são o chileno Arica e os peruanos Ilo e Callao (9.500 milhas, na média, contra 11 mil milhas até os mesmos portos brasileiros). Caso se considere também as distâncias entre as zonas de produção brasileiras e os portos asiáticos, verificar-se-á que eventuais distâncias totais menores significam maiores percursos por via terrestre, muito mais caros do que os por via marítima, mas preferíveis por aqueles que constroem obras. Claro que há órgãos federais que concluem pelas "velhas e más idéias". Mas um exame desses "estudos" permitirá a descoberta de inúmeras "adaptações" para justificar o injustificável. Se o leitor conceder-me o benefício da dúvida, sugeriria que consultasse artigo publicado na "BNDES Setorial" (edição de setembro de 2000), "Logística para agronegócios brasileiros: o que é realmente necessário", para verificar que não devemos investir nossos parcos recursos para atender provável potencial de expansão, mas, sim, para eliminar estrangulamentos já existentes. O tema infra-estrutura é árido, assim como qualquer tema econômico. A análise técnica de proposições é essencial para que se possa decidir com base nos compromissos exigidos, sonhados e escolhidos pela população brasileira. Em outras palavras, há listas de projetos novos e interessantes à disposição do novo governo. Muitos projetos novos são velhos travestidos. Muitos projetos interessantes são forjados. Muitos projetos velhos e esquecidos são interessantes. Muitos projetos podem ser interessantes à luz das mudanças no cenário nacional e internacional. Ou seja, a análise técnica rigorosa de todos é a base para que a decisão política seja do interesse nacional. Uma única e antiquíssima sugestão eu daria ao novo governo: é preciso sempre buscar a verdade e estabelecer conceitos claros e precisos para se produzir soluções corretas, sob pena de criar mais desordem no que se pretende consertar. Eriksom Teixeira Lima, 46, é economista do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e autor de artigos na área de infra-estrutura e comércio exterior Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Carlos Alberto Cerqueira Lemos: Ouro Preto e a desmemorização oficial Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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