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CARLOS HEITOR CONY
Gastos e ganhos
RIO DE JANEIRO - Leio nos jornais que o governo planeja diminuir a verba destinada à saúde.
Concretizada a medida, serão R$ 2
bilhões a menos no ano que vem. Da
verba que sobrar, serão descontados os recursos destinados ao Bolsa
Família, que será considerado investimento na área da saúde.
Um dos setores mais dramáticos
da administração pública é justamente a saúde. Na prática, qualquer
brasileiro sabe que é precária (para
não dizer criminosa) a situação dos
hospitais públicos, com filas gigantescas, falta de material, de pessoal,
atendimento insuficiente e demorado.
Durante a campanha eleitoral,
por diversas vezes Lula abordou o
tema da saúde, reconhecendo suas
deficiências, mas prometendo saná-las em seu segundo mandato,
dotando o Brasil de uma estrutura
de saúde digna de Primeiro Mundo.
Cortando R$ 2 bilhões dos recursos do ano que vem, ele terá de fazer
um milagre fantástico, além da imaginação, pois não será com menos
dinheiro que ele aparelhará um setor que vive um estado quase falimentar.
Diariamente, os jornais da TV
mostram invariavelmente um
"flash" do descalabro na área da
saúde, pacientes estendidos no
chão, bebês dentro de pias, vez por
outra um doente morre na fila de
atendimento. Esse quadro se agrava quando as redes estaduais e municipais de saúde também vivem o
mesmo descalabro.
Na área federal, há um certo cinismo ao considerar investimentos
em saneamento básico como gastos
com saúde, além da já citada Bolsa
Família, que também será considerada área de saúde.
Tais subterfúgios não bastaram
para o governo. Foram direto na
própria verba e cortaram R$ 2 bilhões em nome da redução dos gastos públicos. Mas investir na saúde
não é gasto, e sim ganho público.
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