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VIOLÊNCIA OCULTA
A série de reportagens sobre a violência que esta Folha acaba de publicar esclarece e de certa forma justifica o sentimento de insegurança, medo ou mesmo pânico que hoje aflige
a população de São Paulo. Alguns
números levantados pela pesquisa
feita em conjunto pelo Datafolha e
pelo Ilanud, órgão das Nações Unidas que investiga a violência no mundo, são assustadores. Um deles em
particular: a violência real em São
Paulo é três vezes maior que a que
chega ao conhecimento da polícia.
Esse descompasso entre o que existe de fato e o que apenas aparece oficialmente ao público sugere um quadro que se aproxima do descontrole.
É também um indicador da ineficiência crônica do sistema de segurança
pública, incapaz de atender as demandas da população. Há, é verdade,
uma parcela de responsabilidade que
cabe à própria sociedade, pois muitas vítimas de algum tipo de violência, por medo de represálias ou simplesmente por desacreditar na polícia, não chegam a comunicá-la.
Esse tipo de comportamento contribui para maquiar as estatísticas e
acaba servindo para alimentar ainda
mais a violência. Em 88, um levantamento do IBGE revelou que 67,5%
das vítimas de furto e roubo não os
comunicaram à polícia, o que é um
percentual muito alto.
Nos últimos cinco anos, 4,3 milhões de habitantes de São Paulo sofreram alguma forma de violência. O
número corresponde a 63% dos habitantes com mais de 16 anos. É outro índice igualmente assustador,
mas, ao contrário das aparências,
não discrepa muito dos de outros
países. Nos EUA, essas vítimas são
50%; na Itália, 53%; na África do Sul,
57%, na Inglaterra, 60%. Ocorre que,
enquanto nos EUA o número de pessoas vítimas de assalto equivale a 4%
da população acima dos 16 anos, em
São Paulo esse índice é de 20%.
A pesquisa revela que a extensão do
problema é bem maior do que se supunha. Pior ainda, não se vê por parte das autoridades um esforço efetivo
para ao menos atenuar esse quadro.
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