São Paulo, segunda, 5 de janeiro de 1998.



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VIOLÊNCIA OCULTA

A série de reportagens sobre a violência que esta Folha acaba de publicar esclarece e de certa forma justifica o sentimento de insegurança, medo ou mesmo pânico que hoje aflige a população de São Paulo. Alguns números levantados pela pesquisa feita em conjunto pelo Datafolha e pelo Ilanud, órgão das Nações Unidas que investiga a violência no mundo, são assustadores. Um deles em particular: a violência real em São Paulo é três vezes maior que a que chega ao conhecimento da polícia.
Esse descompasso entre o que existe de fato e o que apenas aparece oficialmente ao público sugere um quadro que se aproxima do descontrole. É também um indicador da ineficiência crônica do sistema de segurança pública, incapaz de atender as demandas da população. Há, é verdade, uma parcela de responsabilidade que cabe à própria sociedade, pois muitas vítimas de algum tipo de violência, por medo de represálias ou simplesmente por desacreditar na polícia, não chegam a comunicá-la.
Esse tipo de comportamento contribui para maquiar as estatísticas e acaba servindo para alimentar ainda mais a violência. Em 88, um levantamento do IBGE revelou que 67,5% das vítimas de furto e roubo não os comunicaram à polícia, o que é um percentual muito alto.
Nos últimos cinco anos, 4,3 milhões de habitantes de São Paulo sofreram alguma forma de violência. O número corresponde a 63% dos habitantes com mais de 16 anos. É outro índice igualmente assustador, mas, ao contrário das aparências, não discrepa muito dos de outros países. Nos EUA, essas vítimas são 50%; na Itália, 53%; na África do Sul, 57%, na Inglaterra, 60%. Ocorre que, enquanto nos EUA o número de pessoas vítimas de assalto equivale a 4% da população acima dos 16 anos, em São Paulo esse índice é de 20%.
A pesquisa revela que a extensão do problema é bem maior do que se supunha. Pior ainda, não se vê por parte das autoridades um esforço efetivo para ao menos atenuar esse quadro.



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