São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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Cerveja e atraso

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Esse caso de suposto suborno na aprovação do processo de fusão das cervejarias é emblemático sobre a falta de modernização do país.
O Cade dará a palavra final sobre a fusão. O órgão é responsável por garantir a concorrência no Brasil. É composto por sete conselheiros. Ganham R$ 5.200 por mês. Cada um tem dois assistentes com remuneração próxima do miserável.
Alguns dos conselheiros do Cade, não todos, são claramente incapacitados para a função. Todos são nomeados por FHC.
Qualquer um sabe a tendência das empresas no século 21. Basta ler as capas de revistas estrangeiras em bancas de aeroporto. Haverá fusões e aquisições aos montes. O futuro é das grandes corporações.
O maior desafio das economias abertas é regular o mercado. Impedir que o poder excessivo das empresas prejudique os cidadãos com preços altos pela falta de concorrência.
Será que muitos brasileiros já ouviram falar do Cade, o famoso Conselho Administrativo de Defesa Econômica? Alguém acredita que o Cade consiga realmente impedir o abuso das grandes corporações? Que está infenso a subornos? Ou que tem poder para regular com rigor fusões como a da Brahma com a Antarctica?
Suspeito que a resposta para essas perguntas seja um sonoro "não".
De quem é a culpa? Dos pobres coitados do Cade, que muitas vezes parecem até fazer milagre, como quando obrigaram a marca Kolynos a sair do mercado? Ou a depauperação da autarquia decorre da pouca importância política que o governo FHC lhe dá?
Em resumo, isso tudo é outra evidência de que FHC é mestre em acertar no atacado e errar no varejo.
Abrir a economia e atrair capital estrangeiro é corretíssimo. Desejar grandes empresas de capital nacional é ótimo. Mas é um desastre quase completo até hoje a criação de agências reguladoras e a pouca importância dada a órgãos já existentes, como o Cade.


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