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Cerveja e atraso
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Esse caso de suposto suborno na aprovação do processo de fusão
das cervejarias é emblemático sobre a
falta de modernização do país.
O Cade dará a palavra final sobre a
fusão. O órgão é responsável por garantir a concorrência no Brasil. É
composto por sete conselheiros. Ganham R$ 5.200 por mês. Cada um tem
dois assistentes com remuneração
próxima do miserável.
Alguns dos conselheiros do Cade,
não todos, são claramente incapacitados para a função. Todos são nomeados por FHC.
Qualquer um sabe a tendência das
empresas no século 21. Basta ler as capas de revistas estrangeiras em bancas
de aeroporto. Haverá fusões e aquisições aos montes. O futuro é das grandes corporações.
O maior desafio das economias
abertas é regular o mercado. Impedir
que o poder excessivo das empresas
prejudique os cidadãos com preços altos pela falta de concorrência.
Será que muitos brasileiros já ouviram falar do Cade, o famoso Conselho
Administrativo de Defesa Econômica?
Alguém acredita que o Cade consiga
realmente impedir o abuso das grandes corporações? Que está infenso a
subornos? Ou que tem poder para regular com rigor fusões como a da
Brahma com a Antarctica?
Suspeito que a resposta para essas
perguntas seja um sonoro "não".
De quem é a culpa? Dos pobres coitados do Cade, que muitas vezes parecem até fazer milagre, como quando
obrigaram a marca Kolynos a sair do
mercado? Ou a depauperação da autarquia decorre da pouca importância
política que o governo FHC lhe dá?
Em resumo, isso tudo é outra evidência de que FHC é mestre em acertar no
atacado e errar no varejo.
Abrir a economia e atrair capital estrangeiro é corretíssimo. Desejar grandes empresas de capital nacional é ótimo. Mas é um desastre quase completo até hoje a criação de agências reguladoras e a pouca importância dada a
órgãos já existentes, como o Cade.
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