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PAULICÉIA ABANDONADA
A cidade de São Paulo é incompatível com um bom governo? Planejamento urbano vale somente para as
metrópoles do Primeiro Mundo? São
indagações que vêm à cabeça quando
se depara com a lastimável situação
da maior urbe da América do Sul.
Na semana passada, novamente a
cidade foi castigada pelas chuvas, e as
consequências foram mortais. Doze
pessoas perderam a vida em um mesmo desbarrancamento, no morro da
Lua, uma das muitas áreas de risco
na zona sul de São Paulo.
O descaso dos governos para com a
ocupação irregular de áreas de risco é
um dos aspectos mais dramáticos da
situação vivida por São Paulo. Tem-se
a impressão de que a cidade está entregue à própria sorte. O descuido
com os rumos da urbanização é um
outro lado da mesma moeda.
Como mostrou esta Folha, a região
da av. Celso Garcia que liga o bairro
do Brás à zona leste vem se tornando
deserta. Por falta de freguesia, o comércio miúdo ali instalado fecha as
portas. Depreciadas, as instalações se
tornam cortiços. Fosse caso isolado,
valeria o argumento de que é normal
uma região se degradar por um tempo, com a mudança para outras plagas das atividades ali tradicionalmente realizadas. São Paulo mudou muito. Mas o descaso com a ordenação
de seu crescimento permanece.
Os lugares degradados são muitos
na paulicéia. O próprio Brás das primeiras fábricas e residências de operários é um deles. O entorno da rua
Amaral Gurgel (centro) e da avenida
São João foi urbanisticamente prejudicado pela construção do viaduto
Costa e Silva, na década de 70. Isso
para não citar a degradação ocorrida
nas praças da Sé e Roosevelt.
A longeva má conduta dos governantes também ajuda a explicar o estado calamitoso em que se encontra
o transporte público paulistano. A
abrangência do metrô, depois de 30
anos de sua implantação, é muito limitada. Com a opção pelo automóvel
e pelos ônibus a diesel, centenas de
quilômetros de linhas de bonde foram destruídas. Os trens suburbanos
não se integraram ao metrô.
Para alterar sua deteriorada situação, São Paulo precisa de uma sequência inédita de bons governos, é
certo. Mas que ninguém se iluda. Esse lamentável e por vezes mortal ambiente urbano só vai melhorar a partir
do momento em que seus cidadãos
passarem a cobrar responsabilidade
das autoridades, exigindo melhorias,
formando associações para defender
a cidade. Sem esquecer de reforçar a
importância fundamental do direito
ao voto, aliás sempre menosprezada.
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