São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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PAULICÉIA ABANDONADA

A cidade de São Paulo é incompatível com um bom governo? Planejamento urbano vale somente para as metrópoles do Primeiro Mundo? São indagações que vêm à cabeça quando se depara com a lastimável situação da maior urbe da América do Sul.
Na semana passada, novamente a cidade foi castigada pelas chuvas, e as consequências foram mortais. Doze pessoas perderam a vida em um mesmo desbarrancamento, no morro da Lua, uma das muitas áreas de risco na zona sul de São Paulo.
O descaso dos governos para com a ocupação irregular de áreas de risco é um dos aspectos mais dramáticos da situação vivida por São Paulo. Tem-se a impressão de que a cidade está entregue à própria sorte. O descuido com os rumos da urbanização é um outro lado da mesma moeda.
Como mostrou esta Folha, a região da av. Celso Garcia que liga o bairro do Brás à zona leste vem se tornando deserta. Por falta de freguesia, o comércio miúdo ali instalado fecha as portas. Depreciadas, as instalações se tornam cortiços. Fosse caso isolado, valeria o argumento de que é normal uma região se degradar por um tempo, com a mudança para outras plagas das atividades ali tradicionalmente realizadas. São Paulo mudou muito. Mas o descaso com a ordenação de seu crescimento permanece.
Os lugares degradados são muitos na paulicéia. O próprio Brás das primeiras fábricas e residências de operários é um deles. O entorno da rua Amaral Gurgel (centro) e da avenida São João foi urbanisticamente prejudicado pela construção do viaduto Costa e Silva, na década de 70. Isso para não citar a degradação ocorrida nas praças da Sé e Roosevelt.
A longeva má conduta dos governantes também ajuda a explicar o estado calamitoso em que se encontra o transporte público paulistano. A abrangência do metrô, depois de 30 anos de sua implantação, é muito limitada. Com a opção pelo automóvel e pelos ônibus a diesel, centenas de quilômetros de linhas de bonde foram destruídas. Os trens suburbanos não se integraram ao metrô.
Para alterar sua deteriorada situação, São Paulo precisa de uma sequência inédita de bons governos, é certo. Mas que ninguém se iluda. Esse lamentável e por vezes mortal ambiente urbano só vai melhorar a partir do momento em que seus cidadãos passarem a cobrar responsabilidade das autoridades, exigindo melhorias, formando associações para defender a cidade. Sem esquecer de reforçar a importância fundamental do direito ao voto, aliás sempre menosprezada.


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