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MELCHIADES FILHO
Nova fronteira
BRASÍLIA - O cálculo político de
Álvaro Uribe é tão preciso quanto a
trajetória dos projéteis que cruzaram a fronteira para explodir os terroristas que se escondiam (hospedavam?) no Equador. Sua figura e
seu discurso só fazem sentido em
uma Colômbia dividida. Com o ataque, o presidente virou protagonista da novela então estrelada por
Hugo Chávez. Garante mais verbas
e armas dos EUA. Quem sabe, um
apelo para prolongar o mandato.
Por sua vez, as Farc, se estivessem de fato interessadas em uma
distensão, não soltariam os reféns
em um conta-gotas teatral e sádico.
Nem exigiriam, como precondição,
a total desmilitarização da região da
Colômbia onde hoje tocam seus negócios. Não são ingênuas a ponto de
acreditar que o adversário aceitaria
criar o Farquistão. Seu objetivo
sempre foi um só: arrastar apoio para sufocar o governo eleito.
Chávez busca um alvo. Perdeu a
condição de mirar a elite de seu país
desde que antigos aliados se juntaram a ela para impedir que ele ampliasse os poderes por meio de referendo. Como a Guiana não oferece
resistência à hegemonia venezuelana -e o Brasil é poderoso e ao mesmo tempo ausente demais-, restou
ao coronel olhar para o oeste.
A violação à soberania nacional
não fez senão legitimar a pregação
de Rafael Correa, de que o Equador
deve se unir e mobilizar os vizinhos
contra a hostilidade imperialista.
E os EUA, que enfrentavam duras
críticas devido ao acúmulo de fracassos no combate ao narcotráfico,
têm uma nova desculpa para manter a base na Colômbia: protegê-la
de bolivarianos ensandecidos.
Há outras razões e rancores em
jogo. Mas, grosso modo, a escalada
de ânimos serve circunstancialmente a todos os atores da região.
O Brasil é o país certo para abrir a
mediação e aquietar as "trombetas
da guerra". E Lula, com suas hesitações, ambivalências e outras táticas
anestesiantes, talvez seja o político
certo no lugar certo.
mfilho@folhasp.com.br
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