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MANOBRA DE CHÁVEZ
"Ditadura constitucional" é um termo que, apesar de encerrar um curioso paradoxo, se presta bem para descrever uma
das principais características da mais
recente safra de líderes populistas da
América Latina, sejam eles de esquerda ou de direita.
Um conhecido representante dessa
situação foi o ex-presidente do Peru,
Alberto Fujimori (1990-2000), que,
antes de atentar contra as instituições de seu país, passou muito tempo operando nas zonas cinzentas da
democracia, isto é, promovendo mudanças casuísticas nas regras do jogo, mas tomando o cuidado de aprová-las de acordo com a liturgia democrática. Ainda que o resultado
fossem medidas claramente ilegítimas, elas permaneciam revestidas de
um verniz de legalidade.
O presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, segue na mesma senda de
Fujimori, apesar das diferenças ideológicas entre os dois. Chávez acaba
de aprovar uma suspeitíssima ampliação do número de juízes do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), elevando de 20 para 32 o total de magistrados. Fê-lo observado os ritos, através de lei aprovada pelo Congresso,
onde detém maioria.
O que torna a manobra altamente
duvidosa é o fato de que o STJ, embora não seja hostil ao presidente, tenha se comportado em determinadas decisões com incômoda independência. Um caso emblemático é
o da controvérsia em torno do plebiscito de revogação do mandato de
Chávez. Enquanto a Câmara Constitucional do STJ (uma das turmas do
tribunal) deliberou em favor do presidente, a resolução da Câmara Eleitoral beneficiou a oposição, levando
a um impasse. É nesse contexto que
se explica a ampliação do número de
magistrados e, para garantir, a redução de 2/3 para metade mais um da
maioria de parlamentares necessária
para nomear os juízes.
A medida, que a oposição chamou
de "golpe branco", não basta para
classificar a Venezuela como um Estado não-democrático ou Chávez como um usurpador. Não há dúvida,
porém, de que o expediente corrói
ainda mais a autoridade presidencial
e mina sua legitimidade.
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