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CLÓVIS ROSSI
O duro efeito petróleo
BRUXELAS - É, os ventos externos decididamente não estão favoráveis ao
Brasil. Não se trata apenas da perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos, que, em tese, atrairia
capitais que, em outras condições,
iriam para países como o Brasil.
Há mais: a inflação brasileira será
dois pontos percentuais maior no caso de o preço do petróleo permanecer
elevado de maneira sustentável (na
casa dos US$ 35 o barril), conforme
estudo divulgado ontem pela AIE
(Agência Internacional de Energia)
em cooperação com o Departamento
de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional e com a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clube dos
29 países supostamente mais industrializados do mundo).
Não é tudo: o crescimento da economia seria 0,4 ponto percentual menor do que o já modestíssimo nível
previsto pelo governo, assim como a
balança comercial pioraria 0,4 ponto
percentual. Tudo isso se materializaria um ano depois de o preço do petróleo se manter elevado de maneira
sustentável. Ou, concretamente, se ficar no patamar atual pelos próximos
doze meses.
São números que sugerem, além
disso, um círculo vicioso: se a inflação
sobe, o Banco Central aumenta os juros e, por extensão, aborta a recuperação da economia, que já não é lá
essas coisas.
Se a balança comercial tem resultados menos vistosos, a necessidade de
recursos externos para fechar as contas fica maior e, por extensão, aumentam as dúvidas dos credores a
respeito da solvência do país.
Para completar o elenco de más notícias contido no relatório, petróleo
caro de forma sustentável significará,
ao fim de um ano, a perda de US$
255 bilhões no conjunto do planeta
(ou 0,5% do PIB mundial), com as
conseqüências óbvias sobre os países
em desenvolvimento, como é o caso
do Brasil.
Sei que é pedir demais para um governo que nem plano A tem, mas seria bom pensar em um plano B para
a hipótese de o preço do petróleo ficar
na altura atual.
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