São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O duro efeito petróleo

BRUXELAS - É, os ventos externos decididamente não estão favoráveis ao Brasil. Não se trata apenas da perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos, que, em tese, atrairia capitais que, em outras condições, iriam para países como o Brasil.
Há mais: a inflação brasileira será dois pontos percentuais maior no caso de o preço do petróleo permanecer elevado de maneira sustentável (na casa dos US$ 35 o barril), conforme estudo divulgado ontem pela AIE (Agência Internacional de Energia) em cooperação com o Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional e com a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clube dos 29 países supostamente mais industrializados do mundo).
Não é tudo: o crescimento da economia seria 0,4 ponto percentual menor do que o já modestíssimo nível previsto pelo governo, assim como a balança comercial pioraria 0,4 ponto percentual. Tudo isso se materializaria um ano depois de o preço do petróleo se manter elevado de maneira sustentável. Ou, concretamente, se ficar no patamar atual pelos próximos doze meses.
São números que sugerem, além disso, um círculo vicioso: se a inflação sobe, o Banco Central aumenta os juros e, por extensão, aborta a recuperação da economia, que já não é lá essas coisas.
Se a balança comercial tem resultados menos vistosos, a necessidade de recursos externos para fechar as contas fica maior e, por extensão, aumentam as dúvidas dos credores a respeito da solvência do país.
Para completar o elenco de más notícias contido no relatório, petróleo caro de forma sustentável significará, ao fim de um ano, a perda de US$ 255 bilhões no conjunto do planeta (ou 0,5% do PIB mundial), com as conseqüências óbvias sobre os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Sei que é pedir demais para um governo que nem plano A tem, mas seria bom pensar em um plano B para a hipótese de o preço do petróleo ficar na altura atual.


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