São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Casuísmo e pragmatismo

BRASÍLIA - É óbvio que o Palácio do Planalto prefere manter João Paulo Cunha e José Sarney nas presidências da Câmara e do Senado até o final do mandato de Lula.
A saída de João Paulo abriria um vácuo na Câmara. Desacomodaria um aliado quando ninguém está com vontade de tirá-lo de onde está. Haveria uma disputa quase fratricida pela sua substituição.
No Senado, Sarney é uma mãe para o PT. Opera para suavizar o caminho de lulistas inexperientes nos meandros do poder -como Aloizio Mercadante, Ideli Salvati e outros.
Tudo somado, há um grande movimento em Brasília para que seja aprovada a emenda da reeleição para os presidentes da Câmara e do Senado. É a soma do casuísmo com o pragmatismo. A regra será alterada durante o jogo -para usar o clichê-, mas os resultados práticos serão, em tese, mais positivos do que negativos para Lula.
Por justiça, registre-se, algo semelhante se deu com FHC. O tucano arrancou em 1997 do Congresso uma emenda para disputar a reeleição.
Ainda não está claro quais serão os efeitos colaterais da emenda Sarney-João Paulo. Em 1997, dois deputados venderam seus votos, renunciaram ao mandato, uma CPI foi abafada e, em troca, o PMDB emplacou Iris Rezende como ministro da Justiça e Eliseu Padilha nos Transportes.
Agora, o PMDB já atolou os dois pés no governo. Pedirá mais?
Um dos líderes do PMDB, Renan Calheiros, está na chuva. A cúpula petista havia prometido apoiá-lo para presidir o Senado em 2005. A reação desse descontente não deve ser desprezada. Calheiros foi um dos líderes de Collor. Rompido, tornou-se ferrenho opositor.
A soma de casuísmo com pragmatismo é sempre um risco. Até onde a vista alcança, o governo Lula ainda não desenhou uma solução para esse problema. No passado, uma guerra quase igual custou os mandatos de ACM e de Jader Barbalho e a desestruturação do governo FHC.


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