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CARLOS HEITOR CONY
A consciência e o hálito
RIO DE JANEIRO - Ao contrário de Bush e de Tony Blair, não fiquei escandalizado nem horrorizado com as
fotos dos prisioneiros torturados pelas tropas de ocupação dos norte-americanos e ingleses no Iraque. Mas
compreendo o escândalo e o horror
que assaltaram os dois chefes de Estado que estão combatendo o Mal em
nome do Bem.
Eles acreditam que realmente encarnam o lado bom da humanidade,
os princípios sadios da liberdade, da
justiça e da democracia. Consideram-se juízes e policiais do resto do
mundo, enviados de Deus Todo-Poderoso (entidade que tanto invocam)
para estabelecer no mundo o reino
da Verdade e da Virtude.
Ninguém precisaria de fotos para
saber o que acontece quando um país
é invadido por outro. Os romanos,
que foram mestres em invasões num
tempo em que não havia fotografia,
assumiam o que deles se esperava em
relação aos povos conquistados.
Separavam os mais fortes para alimentar as feras no Coliseu e cortavam a mão esquerda dos mais fracos,
o que impedia que, em caso de rebelião, eles se armassem de escudos
contra as lanças dos legionários. Velhos e mulheres eram escravizados,
mas poupados.
Nenhum imperador romano ficou
escandalizado ou horrorizado com o
processo de dominação que administravam. Sabiam que guerra é guerra,
que eles eram mais fortes do que os
adversários e que a lei da selva é uma
lei que não precisa ser escrita nem
aprovada por uma assembléia.
Sempre me pergunto se os líderes
nazistas da Segunda Guerra Mundial ficariam escandalizados ou horrorizados ao ver as fotos dos campos
de concentração e dos fornos crematórios.
Pior do que ter mau hálito é não ter
hálito nenhum. Adaptando o ditado,
que é atribuído a Confúcio, para o
caso de Bush e Blair, pior do que a
má consciência é não ter consciência
nenhuma.
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