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FERNANDO RODRIGUES
O capitalismo em falta
BRASÍLIA - Quem já vendeu um
carro conhece a lógica do sistema
capitalista. O dono sempre acha
que o seu produto vale mais do que
os compradores aceitam pagar. Entra-se então numa discussão bizantina sobre algo inexistente: qual deveria ser o "preço justo".
Num sistema liberal, onde estão
em vigor as regras do mercado, não
existe "preço justo". O que há é disponibilidade para pagar ou não.
Os ternos bem cortados de Lula
possivelmente não seriam comprados pelos amigos metalúrgicos do
petista no ABC. Uma peça de vestuário como as que veste o presidente fica na faixa dos R$ 4 mil a R$
5 mil na rua Oscar Freire, em São
Paulo. Muita gente considerará esse preço injusto. O Planalto deve
pagar pelos costumes lulistas com o
cartão de crédito corporativo da
Presidência. Ninguém por lá ousa
pensar em injustiça. Assim funciona o capitalismo.
Não sei se Lula já vendeu algum
automóvel, mas ontem o presidente usou a expressão "preço justo".
Foi num discurso palanqueiro sobre a imposição da licença compulsória ao remédio Efavirenz, utilizado por pacientes portadores do vírus da Aids. Eis a frase do petista:
"Hoje é o Efavirenz, mas amanhã
pode ser qualquer outro comprimido, ou seja, se não estiver com os
preços que são justos (...) nós temos
que tomar essa decisão. Entre o
nosso comércio e a nossa saúde, vamos cuidar da nossa saúde".
Lula foi aplaudido. Nada contra
sua preocupação com a saúde. O
ponto é outro. Se é mesmo verdade
que o governo do Brasil esgotou todas as negociações com o laboratório dentro das regras, a quebra de
patente não é motivo de comemoração -mas de lamento pelo fracasso dos limites estabelecidos.
O presidente parecia ontem tomado de júbilo por intervir numa
decisão de uma empresa privada.
Um ato falho, talvez. Ficou alegre
pela falta de capitalismo no país.
frodriguesbsb@uol.com.br
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