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ELIANE CANTANHÊDE
A ver navios
BRASÍLIA - O vem-não-vem do
presidente do Irã deixou um saldo
negativo para o Brasil: o país teve
todo o desgaste da articulação para
o encontro de Lula e Mahmoud Ahmadinejad, mas acabou não tendo
nenhuma vantagem. Perdeu muito
(em críticas) e não ganhou nada.
A vinda do iraniano era um passo
pragmático, mas arriscado, de política externa. Havia bons motivos
-políticos, para reforçar a independência brasileira em relação a Washington; estratégico, para puxar o
Irã para dentro da chamada "comunidade internacional"; econômico,
para recuperar a perda de 40% nas
exportações brasileiras para o país
entre 2007 e 2008.
Como tudo o que é arriscado, podia dar certo ou dar errado e virar
um fiasco. Foi o que ocorreu. O bônus evaporou-se e ficou o ônus da
aproximação com o Irã, que está no
olho do furacão internacional.
Para "cima", o regime de aiatolás
irrita os governos ocidentais, a começar do norte-americano, com
seus programas nuclear e balístico
(mísseis), numa região em que
qualquer faísca já é explosiva.
Para "baixo", é acusado de perseguir judeus, Bahá'ís, homossexuais
e feministas, que ameaçavam fazer
protestos em Brasília, no Rio, em
São Paulo e onde mais coubesse,
contra a chegada de Ahmadinejad
amanhã. Mas ele avisou que só vem
depois da eleição de 12 de junho (ou
seja: se ganhar).
Desde a semana passada, a embaixada em Teerã enviava sinais de
que Ahmadinejad estava recuando
da viagem. Porque a disputa está
quente. E porque tudo o que candidatos não querem é virar alvo de
protestos em países alheios.
A aproximação com o Irã, entretanto, continua. E nas mesmas bases das relações com Israel. O Brasil
condena os ataques verbais de Ahmadinejad a Israel, como faz diante
da matança de crianças em guerras.
Nos dois casos, a condenação é pontual, a decisões e atos de governos,
não a países. Os regimes passam, os
países ficam. O mundo globalizado
e o comércio também.
elianec@uol.com.br
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