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CARLOS HEITOR CONY
Doenças e doentes
RIO DE JANEIRO - Quinta-feira
passada, na sessão habitual da Academia Brasileira de Letras, presentes dois médicos acadêmicos, Ivo
Pitanguy e Moacyr Scliar, comentou-se aquilo que os jornais estão
chamando de "pandemia": a gripe
suína. Na condição de sanitarista,
Scliar explicava o que podia e dava
conselhos genéricos aos colegas,
que, apesar de imortais, muito se
preocupam com tudo aquilo que
ameaça a própria e discutível
imortalidade.
Não vou repetir os conselhos do
Scliar. Ao final, eu lhe perguntei se
não havia um jeito de mudar o nome da doença. Morrer não chega a
ser das coisas mais agradáveis, e
morrer de gripe suína é dose, um
pleonasmo do azar.
Não é nada não é nada, quando
cheguei em casa, soube pelos telejornais que os suinocultores de todo o mundo haviam conseguido
mudar o nome da gripe, que passou
a ser uma referência técnica, parecida com uma doença de ficção
científica.
Em criança, falavam em espinhela caída. Até hoje não sei do que se
trata, mas sinto ainda frio na espinha quando penso na doença que
era comum no Lins de Vasconcelos.
Birra especial tinha pela sífilis,
que era "syphilis", provocada por
um micróbio que atendia ao nome
científico de Treponema pallidum.
Nada contra o "Treponema" em si
-que também não sei o que é-,
mas contra o "pallidum". Quando
me diziam "Este menino está pálido", eu corria ao espelho para examinar a devastação, que acreditava
ter início pela língua.
Nome de doença é importante
pra burro. Lembro a piada do sujeito que encontrou o rapaz e perguntou pelo pai. "Morreu". O sujeito se
espantou: "Morreu? Mas como?".
"De pneumonia". Alarmado, fez outra pergunta: "Dupla?". A resposta
foi: "Simples". O sujeito deu um
suspiro de alívio: "Ah!...".
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