São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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Massacre no Iraque

ASSIM COMO as cenas de maus-tratos no presídio de Abu Ghraib, causou choque na opinião pública internacional a notícia de que 24 civis iraquianos foram vítimas de execução sumária por parte de soldados americanos, na cidade de Haditha (oeste do país), em novembro do ano passado.
No dia do massacre, divulgou-se que a explosão acidental de uma bomba, deixada por insurgentes, causara a maioria das mortes. Inquérito militar posterior, cujas conclusões foram divulgadas pela imprensa na quarta-feira passada, mostra que a história não foi bem assim.
Houve bomba: matara um militar americano. Casas perto do local foram então invadidas pelos soldados. Discute-se se, nessa ação, foram obedecidas as regras previstas para a identificação de atividades hostis. Ficou claro, pelas certidões de óbito, que pessoas desarmadas foram atingidas por tiros na cabeça e no peito. Os militares encarregados de remover os corpos ocultaram essa circunstância. Entre as vítimas, contam-se mulheres e crianças.
Represália? Execução sumária? Ocultação de informações? Análise de certidões de óbito? Os termos são familiares a quem acompanha as difíceis investigações em torno da ação da PM paulista, após os ataques do PCC. No auge da violência, aproximaram-se com pertinência as situações em São Paulo e em Bagdá.
As diferenças entre um episódio e outro talvez sejam mais instrutivas, contudo. No Iraque, dá-se um confronto entre pessoas de nações distintas, numa situação regida pelo secretismo militar; não à toa, o massacre ficou desconhecido do público por meses, até que "vazou". Resta saber se não será também no caso paulista -onde a vigência plena da democracia exige das autoridades a prestação de contas- adotado um procedimento, irresponsável, de "guerra" à informação.


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