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Massacre no Iraque
ASSIM COMO as cenas de
maus-tratos no presídio
de Abu Ghraib, causou
choque na opinião pública internacional a notícia de que 24 civis
iraquianos foram vítimas de execução sumária por parte de soldados americanos, na cidade de
Haditha (oeste do país), em novembro do ano passado.
No dia do massacre, divulgou-se que a explosão acidental de
uma bomba, deixada por insurgentes, causara a maioria das
mortes. Inquérito militar posterior, cujas conclusões foram divulgadas pela imprensa na quarta-feira passada, mostra que a
história não foi bem assim.
Houve bomba: matara um militar americano. Casas perto do
local foram então invadidas pelos soldados. Discute-se se, nessa
ação, foram obedecidas as regras
previstas para a identificação de
atividades hostis. Ficou claro,
pelas certidões de óbito, que pessoas desarmadas foram atingidas por tiros na cabeça e no peito. Os militares encarregados de
remover os corpos ocultaram essa circunstância. Entre as vítimas, contam-se mulheres e
crianças.
Represália? Execução sumária? Ocultação de informações?
Análise de certidões de óbito? Os
termos são familiares a quem
acompanha as difíceis investigações em torno da ação da PM
paulista, após os ataques do PCC.
No auge da violência, aproximaram-se com pertinência as situações em São Paulo e em Bagdá.
As diferenças entre um episódio e outro talvez sejam mais instrutivas, contudo. No Iraque, dá-se um confronto entre pessoas
de nações distintas, numa situação regida pelo secretismo militar; não à toa, o massacre ficou
desconhecido do público por
meses, até que "vazou". Resta saber se não será também no caso
paulista -onde a vigência plena
da democracia exige das autoridades a prestação de contas-
adotado um procedimento, irresponsável, de "guerra" à informação.
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