São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Voto é voto

RIO DE JANEIRO - Instituições respeitáveis iniciaram uma campanha contra o voto nulo, uma vez que há uma tendência explícita do eleitorado por essa forma de protesto cívico. É um caso típico (e raro) em que os dois lados têm razão.
Anular o voto não deixa de ser uma forma de diminuir o valor da conquista democrática: o de cada cidadão eleger aqueles que formarão os Poderes Legislativo e Executivo. Mas anular o voto é também um direito daqueles que, em determinada eleição, sentem-se revoltados (ou empulhados) pela situação dominante, quando os próprios valores democráticos estão corrompidos pelos abusos dos eleitos.
Uma crise da democracia? O atual sistema eleitoral é uma porteira aberta para o que pode continuar havendo? No caso atual, quando tudo parecia denunciado e penosamente apurado (mensalão, bingos, Correios etc.), surge o caso das ambulâncias. Sem falar na suspeita de que o próprio presidente da República sabia de tudo, sendo por conseguinte o responsável maior pelas mutretas de alguns de seus principais auxiliares.
A partir da degringolada dos Poderes Executivo e Legislativo, a maioria do eleitorado insiste em votar em Lula, motivada pela aura de salvador da nação da qual ele se investiu, sua imagem de gente boa, gente como a gente. Os que não pensam assim só encontram uma forma de inconformismo e protesto: o voto nulo.
Que afinal, não deixa de ser um voto. Tão válido quanto o outro, talvez até mais consciente, uma vez que o eleitor abdica de seu direito de escolher aqueles que deverão governar a nação.
O que me parece errado é a instituição do voto obrigatório, que pune os que se abstêm de exercer o chamado dever cívico. Voto é voto. Deixar de votar ou votar nulo é também um modo de exercer a cidadania.


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