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CLÓVIS ROSSI
Um ar de fim de mundo
MONTEVIDÉU - Uma certa sensação de fim do mundo tomava conta dos
delegados argentinos que se encontram em Montevidéu para a rodada
de negociações entre Mercosul e
União Européia.
Deixaram vazar para seus colegas
brasileiros que esperam algum de-
senlace em no máximo um mês.
O prazo é revelador. Há pouco
mais de um mês, quando trocou parte de suas dívidas de curto prazo por
outros papéis de vencimento mais
adiante, acreditava-se que a Argentina comprara uma certa tranquilidade até 2002.
Mesmo os pessimistas diziam que o
balão de oxigênio fornecido pela troca duraria pelo menos até outubro,
mês da eleição parlamentar.
Agora, até autoridades, ainda que
de segundo escalão, já encurtam a
sobrevida do país para agosto. Como
um país não morre nem vai à falência, o que se imagina é algum tipo de
explosão, que pode ser política (a renúncia do presidente Fernando de la
Rúa, tema de boatos) ou econômica
(a desvalorização do peso, sob pressão dos mercados).
É significativo, a respeito, que o sociólogo Rosendo Fraga (Centro de
Estudos Nova Maioria), muito próximo do ministro Domingo Cavallo,
da Economia, tenha dito à Folha, na
semana passada, que vê 25% de
chances de desvalorização.
Mas, adverte Fraga, desvalorização e calote da dívida são sinônimos,
pelo menos na Argentina. Uma não
virá sem o outro, porque o nível de
endividamento em dólares é excessivo. Se o dólar passar a valer mais, haverá uma quebradeira, ainda que as
grandes empresas já tenham hoje
mais ativos que passivos dolarizados.
Seja como for, o fato é que não dá
para imaginar que a agonia argentina possa alongar-se muito mais. Cada mexida recente provocou alívio
por menos tempo que a anterior. O
Brasil que se cuide, pois. Os dois países são hoje vistos como quase a mesma coisa -para o bem ou para o
mal. E é o mal que está no horizonte.
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