São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2001

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CLÓVIS ROSSI

Um ar de fim de mundo

MONTEVIDÉU - Uma certa sensação de fim do mundo tomava conta dos delegados argentinos que se encontram em Montevidéu para a rodada de negociações entre Mercosul e União Européia.
Deixaram vazar para seus colegas brasileiros que esperam algum de- senlace em no máximo um mês.
O prazo é revelador. Há pouco mais de um mês, quando trocou parte de suas dívidas de curto prazo por outros papéis de vencimento mais adiante, acreditava-se que a Argentina comprara uma certa tranquilidade até 2002.
Mesmo os pessimistas diziam que o balão de oxigênio fornecido pela troca duraria pelo menos até outubro, mês da eleição parlamentar.
Agora, até autoridades, ainda que de segundo escalão, já encurtam a sobrevida do país para agosto. Como um país não morre nem vai à falência, o que se imagina é algum tipo de explosão, que pode ser política (a renúncia do presidente Fernando de la Rúa, tema de boatos) ou econômica (a desvalorização do peso, sob pressão dos mercados).
É significativo, a respeito, que o sociólogo Rosendo Fraga (Centro de Estudos Nova Maioria), muito próximo do ministro Domingo Cavallo, da Economia, tenha dito à Folha, na semana passada, que vê 25% de chances de desvalorização.
Mas, adverte Fraga, desvalorização e calote da dívida são sinônimos, pelo menos na Argentina. Uma não virá sem o outro, porque o nível de endividamento em dólares é excessivo. Se o dólar passar a valer mais, haverá uma quebradeira, ainda que as grandes empresas já tenham hoje mais ativos que passivos dolarizados.
Seja como for, o fato é que não dá para imaginar que a agonia argentina possa alongar-se muito mais. Cada mexida recente provocou alívio por menos tempo que a anterior. O Brasil que se cuide, pois. Os dois países são hoje vistos como quase a mesma coisa -para o bem ou para o mal. E é o mal que está no horizonte.


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