São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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A vitória de Morales

A METÁFORA do copo meio cheio ou meio vazio exprime bem a eleição boliviana do último domingo, na qual a população elegeu uma Assembléia Constituinte e respondeu a uma consulta sobre conceder ou não mais autonomia aos Departamentos (Estados).
O MAS (Movimento ao Socialismo) do presidente Evo Morales emerge das urnas como a principal força política do país. A crer nas projeções, a legenda presidencial fez 134 (52,5%) das 255 vagas da Assembléia. Só que o MAS não conseguiu lograr seu objetivo de assegurar dois terços dos constituintes, o que permitiria a Morales moldar livremente a futura Carta a seus interesses.
Raciocínio análogo se aplica ao referendo sobre a autonomia. O "não" defendido pelo presidente venceu com 56,2% dos votos, e a posição de Morales triunfou em cinco dos nove Departamentos. Mas os resultados pró-autonomia em Beni (73,4%) e Santa Cruz (71,6%), este o mais rico e industrializado do país, são eloqüentes demais para que o tema seja ignorado. De algum modo, a questão da autonomia deverá figurar na próxima Constituição.
Não é, portanto, à toa que tanto Morales quanto lideranças oposicionistas estão comemorando os resultados do pleito.
É positivo que o MAS não tenha conseguido a maioria de dois terços. Morales tem todo o direito de propor modificações constitucionais. Mas não seria bom que o fizesse sem a necessidade de compor com a oposição. Pela regra, os artigos da Constituição precisam ser aprovados por dois terços da Assembléia. Depois, a nova Carta ainda precisa ser submetida a referendo popular.
A ausência de vitória irretorquível no pleito boliviano é uma boa notícia. Resgata a política como espaço para negociar conflitos e tende a funcionar como força moderadora num país onde o radicalismo tem sobressaído.


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