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A vitória de Morales
A METÁFORA do copo meio
cheio ou meio vazio exprime bem a eleição boliviana do último domingo, na qual a
população elegeu uma Assembléia Constituinte e respondeu a
uma consulta sobre conceder ou
não mais autonomia aos Departamentos (Estados).
O MAS (Movimento ao Socialismo) do presidente Evo Morales emerge das urnas como a
principal força política do país. A
crer nas projeções, a legenda
presidencial fez 134 (52,5%) das
255 vagas da Assembléia. Só que
o MAS não conseguiu lograr seu
objetivo de assegurar dois terços
dos constituintes, o que permitiria a Morales moldar livremente
a futura Carta a seus interesses.
Raciocínio análogo se aplica ao
referendo sobre a autonomia. O
"não" defendido pelo presidente
venceu com 56,2% dos votos, e a
posição de Morales triunfou em
cinco dos nove Departamentos.
Mas os resultados pró-autonomia em Beni (73,4%) e Santa
Cruz (71,6%), este o mais rico e
industrializado do país, são eloqüentes demais para que o tema
seja ignorado. De algum modo, a
questão da autonomia deverá figurar na próxima Constituição.
Não é, portanto, à toa que tanto
Morales quanto lideranças oposicionistas estão comemorando
os resultados do pleito.
É positivo que o MAS não tenha conseguido a maioria de dois
terços. Morales tem todo o direito de propor modificações constitucionais. Mas não seria bom
que o fizesse sem a necessidade
de compor com a oposição. Pela
regra, os artigos da Constituição
precisam ser aprovados por dois
terços da Assembléia. Depois, a
nova Carta ainda precisa ser submetida a referendo popular.
A ausência de vitória irretorquível no pleito boliviano é uma
boa notícia. Resgata a política como espaço para negociar conflitos e tende a funcionar como força moderadora num país onde o
radicalismo tem sobressaído.
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