São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Burocracia e alunos

LISBOA - A burocracia tupiniquim, que o brasileiro, impotente, ama odiar, é filha de Portugal, claro. Pombalina, li uma vez. Como não sou especialista no marquês (de Pombal), não sei se é ou não justa a acusação (ou constatação).
Mas os filhos do marquês deram um passo adiante: o "Diário da República", o diário oficial da terra, deixa de circular em papel até o final do ano. Vira eletrônico.
É evidente que não acaba com a burocracia, mas acaba com pelo menos uma de suas mais inúteis práticas: "Para publicar um decreto [no "Diário da República" em papel], é preciso a Guarda Nacional Republicana percorrer Lisboa para recolher as assinaturas necessárias. A partir de agora, isso será dispensado com toda a segurança", diz o primeiro-ministro José Sócrates (Partido Socialista).
Algo é algo. Olhe agora para o futebol, exatamente a única atividade em que o Brasil é terra de excelência mesmo após a derrota, e veja o que diz um professor de economia, Álvaro Santos Pereira, português que leciona na Universidade britânica de York:
"O ponto de inflexão na trajectória da equipa nacional ocorreu há cerca de 15 anos, quando a qualidade excepcional de vários talentos emergentes foi combinada com uma melhoria significativa na organização da gestão das equipas nacionais em todos os escalões etários", escreveu o professor para o caderno econômico do "Diário de Notícias".
Não é preciso pós-graduação em futebol para saber que, se há algo pior que a gestão pública no Brasil, é a gestão dos clubes de futebol, bem ao contrário do que diz Santos Pereira sobre Portugal.
Não, não estou dizendo que Portugal é o melhor país do mundo ou que será campeão mundial de futebol. Só estou dizendo que, às vezes, os alunos conseguem superar os mestres. Para pior.


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