São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006 |
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Os nossos homens-bomba
BENO SUCHODOLSKI
Na gíria dos criminosos é chamado de "binladen", apelido que contém a idéia inequívoca de ser um homem marcado para morrer. Todos os dias, na cidade de São Paulo, circulam centenas de "binladens": não têm mais crédito para continuar seu negócio do tráfico e sabem que serão eliminados por seus credores. Que extraordinária massa de manobra! Que gente pronta para qualquer sacrifício! Pessoas que têm a mais completa convicção do desvalor de suas vidas. Prontos para morrer e, mais ainda, matar. A mesma estrutura psicológica do homem-bomba. Com esse ingrediente humano, o crime organizado desenvolve uma estratégia terrorista brilhante. Por que não oferecer a essa massa de condenados mortos-vivos a oportunidade de se redimir com a organização, de ter suas dívidas perdoadas e o retorno do seu direito à vida? O preço a pagar pela quitação é o assassinato de um policial. O "binladen" que mata um policial é perdoado e fica livre da condenação pelo crime organizado. Uma espécie de dação em pagamento mediante prestação de serviço. Assim, o crime organizado instrumenta a escória dos seu bandidos, os caloteiros dos bandidos, para transformá-los nos assassinos de policiais. Mas a cúpula do crime sabe que o terror gerado pelo assassinato dos policiais precisará ser aplacado em um futuro próximo, uma questão de dias, inclusive para eficiência e bom funcionamento do negócio de distribuição de drogas. Antes que a sociedade se volte contra os chefes das quadrilhas, a cúpula entrega aos vingadores dos policiais assassinados os nomes e o paradeiro dos "binladens". Assim, os "binladens" que teriam sido assassinados pelo crime organizado são por fim assassinados pela polícia. "Happy end". Fecha-se um brutal primeiro ciclo de violência e hipocrisia. Mas esse é só o primeiro capítulo. Seguramente, teremos mais emoções no próximo. BENO SUCHODOLSKI, 61, é advogado, membro do Conselho de Administração do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e do Conselho Jurídico da Fiesp. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Renan Calheiros: Impostos e cidadania Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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