São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

Campanha analógica

BRASÍLIA - Exceto pela febre no Twitter e pelas declarações desastradas de alguns políticos, a internet terá um papel limitado no atual processo eleitoral brasileiro.
Há várias razões para esse atraso. Embora cerca de 70 milhões de pessoas já tenham acesso à rede mundial de computadores, a conexão da maioria é de baixa qualidade. A banda larga no Brasil é estreita. Um aspecto, entretanto, parece ser o responsável principal para o país ainda ter uma eleição "desconectada": o excesso de burocracia e a falta de tecnologia para facilitar doações por meio da web.
Ao longo de seus quase dois anos de campanha, Barack Obama montou uma rede de 3 milhões de doadores. Recebeu cerca de 6 milhões de doações em valores até US$ 100. Como comparação, em 2006, Lula teve 1.634 doadores.
No Brasil, a campanha oficial começa apenas hoje, dia 5 de julho, quando estarão registradas todas as candidaturas. Os políticos só têm três meses para montar suas redes de colaboradores.
Vários estão tentando. Nenhum ainda teve sucesso. Nos EUA, o doador vai ao site do candidato de sua preferência, avista uma página com os ícones das principais bandeiras de cartões de crédito, clica na opção desejada, informa o valor e envia o dinheiro pela web. A conta vem na fatura do cartão. A operação dura cerca de um minuto.
No Brasil, os partidos escorregaram num mata-burro: a lei determina que todas as doações eleitorais tenham um recibo, identificando quem deu o dinheiro, com os dados completos, inclusive o CPF. Esse é o problema: o CPF.
As administradoras de cartões de crédito tiraram o corpo fora. Quem tem o CPF do cliente são os bancos. Agora, os partidos terão de abrir contas em todos os principais bancos que fornecem cartões se quiserem massificar a estratégia. Mas a chance de haver uma clicocracia a la Obama por aqui é mínima.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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