|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A cultura do trambique
SÃO PAULO - O metrô de Bruxelas (e de algumas outras poucas cidades
européias) não tem catracas. Você
compra o bilhete, registra-o em uma
maquininha e vai para a plataforma
esperar o trem.
Dia desses, estava checando a tarifa
quando um amigo, brasileiro, avisou:
"Não precisa pagar não". De fato,
não precisa, já que é livre o acesso à
plataforma e, por extensão, ao trem.
É verdade que a multa para quem for
apanhado sem pagar é alta ( 250, se
a memória não falha, ou perto de R$
1.000).
Mas, nos dois meses em que morei
em Bruxelas e em todas as demais
muitas vezes em que estive na cidade, jamais fui fiscalizado ou vi alguém ser fiscalizado.
Logo, não pagar até fazia sentido.
Mas os belgas, em geral, pagam, até
por uma questão cultural.
Já para o brasileiro, a cultura do
trambique é forte, invencível. Quero
dizer: a cultura do pequeno trambique, porque grandes maracutaias os
outros também fazem -e até em
maior escala.
Os jornais mostram diariamente
essa mentalidade transgressora:
num dia, são os fraudadores de vestibulares que, além da cola eletrônica,
drogam os concorrentes.
No outro dia, é gente que fabrica
armas em casa para vendê-las ao
programa de desarmamento.
Ou então são falsas vítimas do desabamento do Palace 2 que se inscrevem para receber indenização.
A cultura da suposta malandragem faz até com que algumas pessoas se precipitem para furar a fila
do elevador mesmo quando há lugar
para todos. Idiotia em estado puro: o
elevador irá à mesma velocidade para quem entra antes ou depois, e pára nos mesmos andares.
Vai ver que é por isso, entre outros
motivos, que os tolinhos dos belgas,
que pagam o metrô mesmo sem precisar, vivem melhor que os brasileiros, tão malandrinhos.
Texto Anterior: Editoriais: VITÓRIA NA OMC Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Futricas Índice
|