São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A cultura do trambique

SÃO PAULO - O metrô de Bruxelas (e de algumas outras poucas cidades européias) não tem catracas. Você compra o bilhete, registra-o em uma maquininha e vai para a plataforma esperar o trem.
Dia desses, estava checando a tarifa quando um amigo, brasileiro, avisou: "Não precisa pagar não". De fato, não precisa, já que é livre o acesso à plataforma e, por extensão, ao trem. É verdade que a multa para quem for apanhado sem pagar é alta ( 250, se a memória não falha, ou perto de R$ 1.000).
Mas, nos dois meses em que morei em Bruxelas e em todas as demais muitas vezes em que estive na cidade, jamais fui fiscalizado ou vi alguém ser fiscalizado.
Logo, não pagar até fazia sentido. Mas os belgas, em geral, pagam, até por uma questão cultural.
Já para o brasileiro, a cultura do trambique é forte, invencível. Quero dizer: a cultura do pequeno trambique, porque grandes maracutaias os outros também fazem -e até em maior escala.
Os jornais mostram diariamente essa mentalidade transgressora: num dia, são os fraudadores de vestibulares que, além da cola eletrônica, drogam os concorrentes.
No outro dia, é gente que fabrica armas em casa para vendê-las ao programa de desarmamento.
Ou então são falsas vítimas do desabamento do Palace 2 que se inscrevem para receber indenização.
A cultura da suposta malandragem faz até com que algumas pessoas se precipitem para furar a fila do elevador mesmo quando há lugar para todos. Idiotia em estado puro: o elevador irá à mesma velocidade para quem entra antes ou depois, e pára nos mesmos andares.
Vai ver que é por isso, entre outros motivos, que os tolinhos dos belgas, que pagam o metrô mesmo sem precisar, vivem melhor que os brasileiros, tão malandrinhos.


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