São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES Um país volúvel BRASÍLIA - A campanha paraestatal lulista martelou durante um
bom tempo o slogan "sou brasileiro
e não desisto nunca", mas dificilmente se encontra um país tão distante da persistência como o Brasil.
Pelo menos no que diz respeito à
perenidade das regras políticas.
A proposta de acabar com a reeleição é o exemplo mais acabado do
desprezo pela estabilidade das normas eleitorais. A regra só foi usada
uma vez em eleição presidencial,
em 1998, quando FHC se reelegeu.
PFL e PSDB, patrocinadores da
alteração em 1997, agora dizem ter
cometido um equívoco. É mentira.
Querem apenas acalmar seus concorrentes potenciais para 2010. Assim, Aécio Neves e José Serra, entre
outros, teriam supostamente mais
ânimo para rebocar Geraldo Alckmin do buraco.
Para o bem e para o mal, como se
trata de uma conveniência conjuntural, é possível que a idéia morra
mais adiante, pós-eleição.
O Brasil teve até hoje, pós-ditadura militar, quatro eleições presidenciais. Cada uma com uma regra
diferente. Em 1989, o mandato era
de cinco anos. Em 1994, caiu para
quatro anos. Em 1998, veio a reeleição. Em 2002, a verticalização.
A eleição presidencial brasileira
deste ano será apenas a segunda seguida, pós-ditadura, com a mesma
regra da anterior -exceto as bobagens sobre proibir camisetas.
Se nada for feito, em 2010 já teremos uma mudança, pois a verticalização caiu. Acabar também com a
reeleição seria colocar o Brasil de
novo correndo em círculos, sem saber qual a melhor direção a tomar.
Algo útil para quem está no poder.
"Se quisermos que tudo fique como
está, é preciso que tudo mude", já
teorizou Lampedusa. Não é à toa
que Lula vive dizendo que ele também deseja o fim da reeleição e até
uma Assembléia Constituinte, sem
os políticos convencionais.
|
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |