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CLÓVIS ROSSI
Sem medo de ser patrulhada
SÃO PAULO - Era uma vez o tempo em que as patrulhas da esquerda
gritavam "é da direita", e o patrulhado se calava sem que fosse preciso acrescentar um mísero argumento para desqualificá-lo.
Compreensível: ser de direita é
ser conservador, diz a sabedoria
convencional. No Brasil, não há
muito o que conservar, conhecida a
obscenidade social (e ética) que é a
pátria amada. Logo, o rótulo "direita" bastava para provocar o "impeachment" para o debate de quem
o recebia.
A reação de Paulo Zottolo, presidente da Philips do Brasil, parece
pôr fim a essa situação. Não que ele
se assuma como de direita. Mas assume-se, sim, como rico e da elite,
mas nem por isso disposto a calar-se ante o patrulhamento.
É também compreensível: primeiro, caiu o Muro de Berlim, símbolo da vitória da direita na guerra
ideológica do século passado (ainda
precisa ganhar a do século 21, mas
essa é outra história).
No Brasil, à queda do muro e à
derrota da esquerda, somou-se a
violenta guinada do maior partido
de esquerda, o PT. Foi tão rapidamente para a direita que embaralhou tudo, menos as patrulhas.
Hoje, quando elas gritam "é de direita", referem-se a quem? A Paulo
Maluf e Fernando Collor, dois arquetípicos representantes da direita, mas agora aliados desde criancinhas do governo Lula? Ou a Delfim
Netto, o demônio preferido da esquerda até ser entronizado conselheiro econômico do "rei" Lula,
mais ouvido por ele do que os economistas de esquerda de tempos já
mortos?
Ou a José Sarney, outro incondicional do lulismo, mas presidente
do partido de apoio ao regime surgido do golpe de 64, o fantasma que
agora Lula invoca sem olhar para o
lado e ver seus aliados?
O grito "é a direita/é o golpe" ficou igual ao "olha o lobo". Ninguém
sério leva a sério. Só os debilóides
das patrulhas.
crossi@uol.com.br
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