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CLÓVIS ROSSI
Debates. Ou a última chance
SÃO PAULO - A série de debates
que começa hoje é, talvez, a única
chance de José Serra reverter um
quadro eleitoral que é claramente
favorável a Dilma Rousseff.
Favorável menos pelo que dizem
as pesquisas e mais pela lógica. Pode-se até argumentar que lógica e
eleições nem sempre se casam, mas
é o único instrumento para análise,
já que, por definição, não dá para
trabalhar com o imponderável.
Qual é a lógica? Repito: há uma
sensação bastante disseminada de
bem-estar no país, o tal "feel good
factor". É natural que, nessas circunstâncias, o eleitorado prefira o
continuísmo à mudança.
Para alterar essa lógica, os candidatos oposicionistas teriam que pôr
no cenário alguma emoção, alguma utopia, alguma ilusão convincente. Nada disso está à vista, e resta demasiado pouco tempo para
que possa aparecer.
A alternativa para a oposição é
desmontar Dilma, o que só pode
acontecer nos debates. No horário
gratuito, ela será devidamente embalada para presente, como de resto todos os demais, exceto Plínio de
Arruda Sampaio (PSOL). Plínio prefere a autenticidade ao embrulho,
ainda que não lhe dê votos.
O debate fica sendo, portanto, a
única chance de, eventualmente,
fazer a candidata governista escorregar, mostrar-se indecisa, atrapalhada, insegura, sei lá. Algo enfim
que leve o público a acreditar que
ela não é a garantia de que o "feel
good" vai continuar.
No caso de Serra, o debate terá
um elemento adicional para ajudá-lo na difícil tarefa de desconstruir
Dilma. Chama-se exatamente Plínio de Arruda Sampaio, o único
com coragem suficiente para dizer
que o imensamente popular governo Lula é "nefasto", como o fez em
entrevista à Folha.
Claro que o candidato do PSOL
tampouco vai poupar Serra. Mas o
tucano está habituado a levar bordoadas da esquerda, muito ao contrário de Dilma.
crossi@uol.com.br
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