São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

De volta ao futuro

JOHANNESBURGO - Leio na Folha que Serra vai tentar polarizar com Lula. Faz sentido, porque já lucrou o que podia no embate com Ciro e pode começar a perder. E foi mais ou menos isso que a tucanada (de carteirinha ou não) andou dizendo por aqui em Johannesburgo.
Serra e Ciro estão empatados, mas os serrista querem passar a sensação de que o tucano está com o pé no segundo turno e que Ciro ficou meio de lado, de escanteio, como se tivesse perdido importância. De outro lado, Serra acha que Lula foi muito preservado e teme que chegue tão consolidado ao segundo turno que seja quase imbatível. É hora de entrar na dança.
Desviar o alvo de Ciro para Lula parece natural, mas não é fácil. Serra foi direto e duro contra Ciro, martelando a imagem de "mentiroso" e de "agressivo", que xinga até ouvinte de rádio. Mas vai ter de ser mais sutil contra Lula, que pode até estar mais arisco contra o tucano e o governo, mas ainda não deixou de ser o "Lulinha paz e amor" da campanha.
A pancada, mal calibrada, pode ter efeito inverso: reforçar a suspeita de truculência da candidatura Serra e fazer de Lula mais uma vítima.
E o principal é que, acima da campanha, há uma questão muito importante: o futuro. Serra sonha com um certo entendimento com o PT se ganhar a eleição, e a recíproca é verdadeira: o PT também sonha com a boa vontade do PSDB caso Lula ganhe. Ninguém quer explodir pontes.
O tucano, pois, deve bater na falta de experiência administrativa de Lula e nas ambiguidades da campanha e do discurso do PT. Mas sem ir no fígado, como fazia (ou faz?) com Ciro.
Registre-se que no debate da TV Record, conforme relato inclusive dos jornais, Lula, Ciro e Garotinho se uniram contra o governo. Como "governo", leia-se "Serra".
Significa que Ciro ainda é forte, mas Serra voltou de fato ao centro da eleição. Os adversários temem sua força no primeiro turno, e Lula já se previne para o segundo. Essa é a grande novidade que vou encontrar na volta, hoje, ao Brasil. Em 11 dias, muita coisa mudou.


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