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ELIANE CANTANHÊDE
De volta ao futuro
JOHANNESBURGO - Leio na Folha que Serra vai tentar polarizar com
Lula. Faz sentido, porque já lucrou o
que podia no embate com Ciro e pode
começar a perder. E foi mais ou menos isso que a tucanada (de carteirinha ou não) andou dizendo por aqui
em Johannesburgo.
Serra e Ciro estão empatados, mas
os serrista querem passar a sensação
de que o tucano está com o pé no segundo turno e que Ciro ficou meio de
lado, de escanteio, como se tivesse
perdido importância. De outro lado,
Serra acha que Lula foi muito preservado e teme que chegue tão consolidado ao segundo turno que seja quase imbatível. É hora de entrar na
dança.
Desviar o alvo de Ciro para Lula
parece natural, mas não é fácil. Serra
foi direto e duro contra Ciro, martelando a imagem de "mentiroso" e de
"agressivo", que xinga até ouvinte de
rádio. Mas vai ter de ser mais sutil
contra Lula, que pode até estar mais
arisco contra o tucano e o governo,
mas ainda não deixou de ser o "Lulinha paz e amor" da campanha.
A pancada, mal calibrada, pode ter
efeito inverso: reforçar a suspeita de
truculência da candidatura Serra e
fazer de Lula mais uma vítima.
E o principal é que, acima da campanha, há uma questão muito importante: o futuro. Serra sonha com
um certo entendimento com o PT se
ganhar a eleição, e a recíproca é verdadeira: o PT também sonha com a
boa vontade do PSDB caso Lula ganhe. Ninguém quer explodir pontes.
O tucano, pois, deve bater na falta
de experiência administrativa de Lula e nas ambiguidades da campanha
e do discurso do PT. Mas sem ir no fígado, como fazia (ou faz?) com Ciro.
Registre-se que no debate da TV
Record, conforme relato inclusive dos
jornais, Lula, Ciro e Garotinho se
uniram contra o governo. Como "governo", leia-se "Serra".
Significa que Ciro ainda é forte,
mas Serra voltou de fato ao centro da
eleição. Os adversários temem sua
força no primeiro turno, e Lula já se
previne para o segundo. Essa é a
grande novidade que vou encontrar
na volta, hoje, ao Brasil. Em 11 dias,
muita coisa mudou.
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