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CARLOS HEITOR CONY
Fausto Cunha
RIO DE JANEIRO - Faço minha a pergunta (e a reclamação) de Cícero
Sandroni em artigo na semana passada no "Jornal do Commercio"
(Rio): onde anda o Fausto Cunha?
Para quem não sabe, Fausto Cunha
durante muitos anos foi um dos mais
importantes críticos literários deste
país, escrevia em diversas revistas e
tinha uma famosa e definitiva coluna no suplemento literário do ""Correio da Manhã".
Era respeitado como se fosse um
continuador de Álvaro Lins, que
também trabalhara no mesmo jornal
até ser sugado pela política e terminar na chefia da Casa Civil do governo Kubitschek.
Fausto o substituiu com uma vantagem. Além de crítico, era cultor da
ciência-ficção, e a ela se dedicava, publicando contos que continuam sendo dos melhores no gênero.
Ganhou prêmios e status de intelectual cinco estrelas. De repente, desapareceu da paisagem, da mídia, das
livrarias e das editoras. Volta e meia
é visto e reconhecido nas imediações
do largo do Machado, tranquilo, domesticado na rotina do guerreiro em
repouso, repouso imerecido, porém,
pois tem muito a nos dar ainda tanto
na crítica como na ficção.
É evidente que respeito a sua posição, o seu voluntário afastamento da
pedreira literária. Eu próprio passei
23 anos fora dela, cuidando de minha vida pessoal, de meus amores e
desamores, que formam o melhor de
qualquer vida.
Mas, onde quer que Fausto esteja,
fica o meu apelo, junto com o do Cícero: apareça, nem que seja como um
dos marcianos que frequentaram a
sua ficção.
Faz tempo, participamos de um debate na Cinemateca do Rio sobre um
filme de Buñuel, "Viridiana". Fausto
declarou que só veria o filme novamente de joelhos. Foi a primeira vez
que ouvi essa expressão, que, depois,
entrou em circulação.
Lembro que olhei para ele com admiração e inveja.
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