São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Fausto Cunha

RIO DE JANEIRO - Faço minha a pergunta (e a reclamação) de Cícero Sandroni em artigo na semana passada no "Jornal do Commercio" (Rio): onde anda o Fausto Cunha?
Para quem não sabe, Fausto Cunha durante muitos anos foi um dos mais importantes críticos literários deste país, escrevia em diversas revistas e tinha uma famosa e definitiva coluna no suplemento literário do ""Correio da Manhã".
Era respeitado como se fosse um continuador de Álvaro Lins, que também trabalhara no mesmo jornal até ser sugado pela política e terminar na chefia da Casa Civil do governo Kubitschek.
Fausto o substituiu com uma vantagem. Além de crítico, era cultor da ciência-ficção, e a ela se dedicava, publicando contos que continuam sendo dos melhores no gênero.
Ganhou prêmios e status de intelectual cinco estrelas. De repente, desapareceu da paisagem, da mídia, das livrarias e das editoras. Volta e meia é visto e reconhecido nas imediações do largo do Machado, tranquilo, domesticado na rotina do guerreiro em repouso, repouso imerecido, porém, pois tem muito a nos dar ainda tanto na crítica como na ficção.
É evidente que respeito a sua posição, o seu voluntário afastamento da pedreira literária. Eu próprio passei 23 anos fora dela, cuidando de minha vida pessoal, de meus amores e desamores, que formam o melhor de qualquer vida.
Mas, onde quer que Fausto esteja, fica o meu apelo, junto com o do Cícero: apareça, nem que seja como um dos marcianos que frequentaram a sua ficção.
Faz tempo, participamos de um debate na Cinemateca do Rio sobre um filme de Buñuel, "Viridiana". Fausto declarou que só veria o filme novamente de joelhos. Foi a primeira vez que ouvi essa expressão, que, depois, entrou em circulação.
Lembro que olhei para ele com admiração e inveja.


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