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ELIANE CANTANHÊDE
Afinal, quem é que manda?
BRASÍLIA - O presidente da República é alertado por um presidenciável de oposição de que a Receita
quebrou com intuito político o sigilo fiscal da sua filha, que corre solto
nos blogs do PT. O presidente dá de
ombros: "Não sou censor".
O ministro da Fazenda acha desagradável quebrarem o sigilo fiscal da filha de um candidato e de dirigentes tucanos, mas... "Vazamento sempre ocorreu", conforma-se.
O presidente do PT não sabe, não
viu e não confirma a informação
oficial de que o autor da procuração
grosseiramente falsificada com o
nome da filha do oposicionista era
filiado ao PT desde 2003. "Não muda nada", decreta.
Quem faz o serviço sujo para a
campanha petista na internet já
tem um culpado: Aécio! É ridículo,
como se esses tucanos e esse Aécio
é que vivessem fazendo dossiês e
usando o aparelho de Estado para
violar o sigilo dos outros.
Dois dias de TV são insuficientes
para detectar o impacto do escândalo na campanha, mas, com a eleição cristalizada em 50% para Dilma, 28% para Serra e a margem de
seis pontos para a eleição fechar no
primeiro turno, é bom todo mundo
ficar esperto quanto a métodos, discurso e marketing do grupo que pode ficar 20 anos no poder.
Como convém ficar de olho na
pauta do governo Lula nos três meses entre a eleição e a troca de cadeira. Os caças Rafale esquentam
as turbinas nos hangares franceses,
Cesare Battisti arruma as malas para sair da cadeia e se instalar de vez
no Brasil, e não será surpresa se Lula aproveitar o fim do seu governo
para dar as más notícias (como o
ajuste fiscal), deixando Dilma mais
livre para dar as boas.
Mesmo assim, não será fácil. Lula não gastou um tico de popularidade para enfrentar questões fundamentais para o país, mas geradoras de atrito, como ética pública,
aloprados, oligarquias e as reformas tributária e política. Ou ele começa já ou vai cair tudo na cabeça
de Dilma ou de qualquer que seja o
sucessor a partir do ano que vem.
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