São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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MARCELO BERABA

Lá e cá

RIO DE JANEIRO - Os economistas devem achar normal. Mas eu continuo escandalizado com os milhares de demissões feitas por empresas norte-americanas um minuto após os atentados do dia 11 de setembro. Imagino os demitidos, ainda sob o choque das mortes e dos desaparecimentos, recebendo o bilhete azul.
Fernando Rodrigues, vizinho de coluna, explicou na quarta-feira que se trata de um dos indícios da antecipação dos efeitos da recessão norte-americana. E que pode ser um fenômeno positivo. Primeiro, porque acelera o ajuste econômico que viria de qualquer forma até o final do ano e, segundo, porque já prepara a economia norte-americana para uma nova fase de crescimento a partir de 2002.
Pode até ser, não duvido. Ele conhece bem o assunto e acaba de chegar de Nova York. É possível que "tecnicamente" essas medidas tenham lá sua lógica e tenham sido necessárias. Mas será que essas empresas não poderiam esperar baixar, literalmente, a poeira e só depois tomar decisões tão drásticas? Deve ser o que restou do tal instinto de sobrevivência.

Falando em instinto, deve ser o mesmo que impulsionou os nossos deputados federais a rejeitar a mais importante medida que poderiam adotar se queriam de fato um código de ética. Refiro-me à decisão de manter em sigilo as declarações de bens e de rendimentos dos deputados.
Um dos principais fatores do desgaste dos políticos é a certeza que se tem de que uma boa parte ali está para fazer caixa, tanto faz se para ser usado em benefício próprio e dos amigos ou em campanha eleitoral.
Além dos escândalos frequentes, existem vários casos nunca esclarecidos de enriquecimento ostensivo depois da conquista de um cargo político. O sujeito entra remediado e três anos depois já mudou completamente o padrão de vida.
O sigilo, no caso, é sinônimo de falta de transparência.


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