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MARCELO BERABA
Lá e cá
RIO DE JANEIRO - Os economistas devem achar normal. Mas eu continuo escandalizado com os milhares de demissões feitas por empresas norte-americanas um minuto após os atentados do dia 11 de setembro.
Imagino os demitidos, ainda sob o
choque das mortes e dos desaparecimentos, recebendo o bilhete azul.
Fernando Rodrigues, vizinho de coluna, explicou na quarta-feira que se
trata de um dos indícios da antecipação dos efeitos da recessão norte-americana. E que pode ser um fenômeno positivo. Primeiro, porque acelera o ajuste econômico que viria de
qualquer forma até o final do ano e,
segundo, porque já prepara a economia norte-americana para uma nova fase de crescimento a partir de
2002.
Pode até ser, não duvido. Ele conhece bem o assunto e acaba de chegar
de Nova York. É possível que "tecnicamente" essas medidas tenham lá
sua lógica e tenham sido necessárias.
Mas será que essas empresas não poderiam esperar baixar, literalmente,
a poeira e só depois tomar decisões
tão drásticas? Deve ser o que restou
do tal instinto de sobrevivência.
Falando em instinto, deve ser o mesmo que impulsionou os nossos deputados federais a rejeitar a mais importante medida que poderiam adotar se queriam de fato um código de ética. Refiro-me à decisão de manter em sigilo as declarações de bens e de rendimentos dos
deputados.
Um dos principais fatores do desgaste
dos políticos é a certeza que se tem de
que uma boa parte ali está para fazer
caixa, tanto faz se para ser usado em
benefício próprio e dos amigos ou em
campanha eleitoral.
Além dos escândalos frequentes, existem vários casos nunca esclarecidos de
enriquecimento ostensivo depois da
conquista de um cargo político. O sujeito entra remediado e três anos depois já
mudou completamente o padrão de vida.
O sigilo, no caso, é sinônimo de falta
de transparência.
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